terça-feira, 17 de agosto de 2010

Omar Osama Bin Laden: "Amava meu pai, mas nunca o seguiria"



O filho de Osama Bin Laden conta por que abdicou de ser seu sucessor no comando da Al-Qaeda. Confira as entrevistas que ele e a autora do livro 'Sob a sombra do terror', que narra a história de Omar, concederam a ÉPOCA
JULIANO MACHADO
O garoto Omar Osama Bin Laden não podia sorrir. Se o fizesse, seu pai, Osama, o repreendia de acordo com o número de dentes à mostra. Qualquer manifestação de alegria era considerada ofensiva aos preceitos islâmicos. Omar é o quarto dos 21 filhos conhecidos de Osama Bin Laden. Assim como todos os seus irmãos, não tinha brinquedos, não podia tomar refrigerantes, só saía de casa sob vigilância. Mesmo sendo de uma das famílias mais ricas da Arábia Saudita, vivia em casas sem geladeira, ventilador, sem nada que indicasse “modernidade”. Isso quando sua moradia não foi o alto de uma montanha em Tora Bora, no Afeganistão. A vida dura, na visão do pai, seria uma preparação para Omar suceder-lhe à frente da Al-Qaeda, que organizou os ataques do 11 de setembro.
Elisabetta Villa




QUEM É 
Omar Osama Bin Laden nasceu em Jidá, na Arábia Saudita. Tem 29 anos. Divorciado duas vezes, tem um filho, Ahmed, de 6 anos

O QUE FEZ 
Depois de abandonar o pai no Afeganistão, tornou-se crítico das atividades do pai
O QUE FAZ 
Vive entre Catar, Síria e Arábia Saudita, sempre em endereços não divulgados. É empresário na área de reciclagem. Publicou Sob a sombra do terror(editora BestSeller)





Mas Omar ousou recusar esse caminho. Fugiu do Afeganistão e decidiu contar sua vida ao lado do terrorista mais procurado do mundo. As histórias dele e de Najwa, sua mãe e primeira mulher de Osama, são narradas pela escritora americana Jean Sasson no livro Sob a sombra do terror (editora BestSeller, R$ 34,90, 434 páginas), que chega às livrarias nesta semana. Por e-mail, de um local não divulgado por questões de segurança, Omar concedeu a Época esta entrevista. “Meu pai me fez um homem ciente de que há melhores meios que a guerra”, diz.
ÉPOCA - O senhor fugiu de seu pai no Afeganistão meses antes dos atentados de 11 de setembro de 2001. Por que decidiu contar sua história tanto tempo depois? 
Omar Osama Bin Laden- 
Havia muitas histórias sobre mim e meu pai que não eram verdadeiras. Eu queria contar a verdade da minha vida e decidi que um livro seria a melhor opção. Mas precisava de alguém em quem pudesse confiar.


ÉPOCA - Por que o senhor procurou justamente uma mulher americana para escrever o livro? Não parece irônico diante do ódio de seu pai pelos Estados Unidos? Bin Laden - Ouvi falar que Jean Sasson era uma mulher que cumpria com sua palavra. Li três livros dela: Princesa, Mayada e outro sobre mulheres curdas (Amor em terra de chamas). Em todos ela falava da vida de mulheres no Oriente Médio com respeito. Você só pode acreditar nisso ( em ser uma ironia) se não conhecer a obra de Jean.


ÉPOCA - Ao longo do livro, o senhor diz que o “mundo louco” de Osama deixou marcas negativas em todos os filhos. Como Osama afetou sua vida? 

Bin Laden - É complicado. Meu pai podia ser ao mesmo tempo um homem tranquilo e severo, difícil de lidar. Ele seguiu um caminho do qual eu discordei assim que tive idade suficiente para entender que a violência não era o melhor caminho. Acho que meu pai me fez um homem pensativo e ciente de que há melhores meios que a guerra, como sentar e conversar sobre os problemas.


ÉPOCA - O senhor e seus irmãos foram sempre ensinados a odiar o Ocidente. Em algum momento o senhor se imaginou dentro da guerra santa, como seu pai queria? 
Bin Laden - Não. Nunca pensei em ser um guerreiro. Nenhum de meus irmãos chegou a se integrar à Al-Qaeda. Isso mostra que não apoiávamos seu modo de resolver os problemas.


ÉPOCA - Quando Osama o levou no avião em que fugiu do Sudão, em 1996, ele já via o senhor como seu sucessor na Al-Qaeda. O senhor chegou a pensar em aceitar? 

Bin Laden - Eu era muito jovem, tinha só 15 anos. Eu amava meu pai. Também o temia, mas nunca quis seguir seus passos em nenhum momento de minha vida.


ÉPOCA - O senhor só se convenceu de que Osama planejara o 11 de setembro quando ele confessou a participação nos atentados, quase três anos depois. O que o fazia acreditar que ele não fosse capaz daquilo? 

Bin Laden - Não sei por que era tão difícil, para mim, acreditar nisso. Mas era. Parecia algo muito grande para que meu pai pudesse fazer. E eu não queria que fosse assim.


ÉPOCA - Sua família é uma das mais ricas da Arábia Saudita, mas sua infância foi cheia de privações. Osama proibia geladeira, refrigerante, brinquedos. Que lembrança o senhor tem daquela época? 

Bin Laden - Eu odiava a vida que a gente levava. Meu pai não nos deixava ter quase nada, a não ser o chão sob nossos pés. Hoje eu gosto de ter bens sofisticados, como meus parentes tinham desde a infância. Meu pai era austero com tudo, menos com armas e carros. Ele gostava que esses bens fossem os mais modernos. É complicado tentar entender como ele pensava...


ÉPOCA - O senhor ressalta no livro a ascendência do médico egípcio Ayman al-Zawahiri, o número dois da Al-Qaeda, sobre seu pai. Sem Zawahiri, ele não teria se tornado um terrorista? 

Bin Laden - Se meu pai não tivesse sido rodeado por algumas pessoas, especialmente Zawahiri, ele não teria se tornado uma pessoa obsessiva com a guerra. Ele foi muito mal influenciado. Esses homens pioraram muito uma situação que já era ruim.


ÉPOCA - Sua mãe, Najwa, prima de Osama, relata vários momentos de insatisfação com a vida imposta pelo marido, mas nunca se indispôs com ele. Por quê? 

Bin Laden - Não falo sobre minha mãe. Ela disse o que tinha de dizer no livro. Quem quiser saber sobre suas vontades tem de ouvir as palavras dela.


ÉPOCA - Osama triunfou ao lutar pela expulsão dos soviéticos do Afeganistão. Depois, definiu como missão varrer qualquer presença ocidental no mundo islâmico. Ele ainda pode ter sucesso? 

Bin Laden - O que é ter sucesso nesse caso? Apesar de a Al-Qaeda ainda estar pelo mundo e alguns dizerem que ela está crescendo, não me parece que boas coisas vêm ocorrendo para a organização de meu pai.
Eu odiava a vida que a gente levava. Meu pai não nos deixava ter quase nada, a não ser o chão sob nossos pés


ÉPOCA - O senhor viveu no Afeganistão e conheceu as áreas mais críticas do país. A estratégia dos Estados Unidos de enviar mais tropas pode derrotar os talebans? 

Bin Laden - Não. Pelo que conheci dos talebans, nada vai fazê-los parar. Eles podem estar quietos agora, mas não vão desistir. Não importa quantos inimigos terão de combater.


ÉPOCA - O relato de sua infância mostra um pai cruel, mas também um guerreiro islâmico obstinado. Isso não acaba incentivando quem quer lutar na guerra santa? 

Bin Laden - Algumas pessoas no mundo islâmico realmente seguem amando meu pai. No entanto, não acho que a história de minha vida vai mudar a opinião deles de um modo ou de outro.


ÉPOCA - Como está sua vida hoje? 
Bin Laden - Estou divorciado (Bin Laden casou-se em 2006 com a britânica Jane Felix Browne, que mudou seu nome para Zaina Mohammed Al-Sabah, e se divorciou há pouco mais de um mês), não tenho nenhuma esposa no momento (no islamismo, o homem pode ter até quatro mulheres). Estou tentando abrir um negócio, mas ainda está incerto (Omar mantinha uma empresa de coleta de sucata). Meu filho, Ahmed, de 6 anos, está muito bem e mora com a mãe (a primeira mulher de Omar) na Arábia Saudita.


ÉPOCA - Jornais britânicos afirmaram que o senhor teria sido hospitalizado por “problemas mentais” em junho. Especulou-se que pudesse ser transtorno bipolar ou esquizofrenia. Poderia falar sobre isso? 

Bin Laden - Essas notícias foram distorcidas. Eu tomo remédios contra depressão. Mas um dos medicamentos estava sendo mal administrado e meu quadro piorou. Foi isso o que aconteceu. Todas as outras coisas ditas sobre mim são falsas, mas não me incomodo.

ÉPOCA - O senhor já disse ter interesse em ser embaixador da boa vontade das Nações Unidas. Continua com essa ambição? 
Bin Laden - Sempre acreditei que poderia trabalhar para as Nações Unidas em missões pela paz. Talvez um dia eu consiga fazer isso, mas até agora não há nada em andamento.

ÉPOCA - O senhor acha que seu pai pode planejar um ataque do mesmo porte do 11 de setembro? 

Bin Laden - Não posso responder. Só Deus sabe. Ele está muito longe de mim e não sei como se encontra.


ÉPOCA - Com que frequência o senhor recebe notícias dele? Vocês se falam? 

Bin Laden - Nunca recebo notícias dele. Eu ouço falar de meu pai pela mídia, assim como qualquer pessoa. Ele nunca mais se comunicou comigo desde que eu deixei o Afeganistão em 2001 (segundo Jean Sasson, autora do livro de Omar, ele acredita que seu pai esteja vivo. Isso porque geralmente reconhece a voz de Osama em gravações de áudio que ele recebe da mídia árabe e de pessoas conhecidas de vez em quando).


ÉPOCA - Que tipo de sentimento prevalece quando o senhor pensa em seu pai? 
Bin Laden - Tristeza, mais do que tudo.


ÉPOCA - No livro, o senhor se lembra do dia em que o jornalista inglês Robert Fisk foi entrevistar seu pai. Fisk perguntou se o senhor, ainda criança, era feliz. E o senhor afirma ter se arrependido de dizer “sim”. E hoje? O senhor é feliz? 

Bin Laden - Às vezes, sim, mas quase sempre sou uma pessoa triste. Tento viver uma vida de alegrias, mas há muitas coisas que me causam tristeza.


ÉPOCA – O senhor deixou muitos irmãos para trás ao sair do Afeganistão. Qual é a situação deles? 
Bin Laden – Depois do 11 de Setembro, sem conhecimento do meu pai, seis deles cruzaram a pé a fronteira com o Paquistão. De lá foram para o Irã, que os expulsou, mas eles voltaram para lá. Na segunda vez, os iranianos os colocaram numa espécie de prisão domiciliar. Só saíam de lá uma ou duas vezes ao ano, sob supervisão, para fazer compras. Numa dessas saídas, minha irmã Iman fugiu e conseguiu ir para a Síria, onde mora minha mãe. Depois, o Irã permitiu a saída de Bakr e Mohammed para a Síria. Mas Osman, Fatima e Hamza (este, meio-irmão de Omar) ainda estão no Irã, com as famílias que formaram. Peço a qualquer país do Oriente Médio que dê abrigo a eles. Nenhum tinha documentos, o que torna o processo mais difícil.




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