sexta-feira, 13 de setembro de 2013

ENEM - Tropas e monções






Nos séculos XVII e XVIII, os tropeiros eram partes da vida da zona rural e cidades pequenas dentro do sul do Brasil.
Vestidos como gaúchos com chapéus, ponchos, e botas, os tropeiros dirigiram rebanhos de gado e levaram bens por esta região para São Paulo, comercializados na feira de Sorocaba. De São Paulo, os animais e mercadorias foram para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

Em direção às minas, o transporte feito no lombo de animais foi fundamental devido aos acidentes geográficos da região, que dificultavam o transporte. Já para as regiões de Goiás e Mato Grosso, a maioria dos produtos eram transportados através dos rios, nas chamadas monções.

É difícil definir os homens que se dedicavam a esta atividade. Muitos homens de origem paulista, vicentina, ou seus descendentes, se tornaram tropeiros, assim como muitos homens de origem portuguesa.

O fato de a Capitania de São Vicente ter prosperado de forma limitada, obrigou muitos de seus habitantes a subirem a serra e a se fixarem no planalto. Assim surgiu a vila de São Paulo, formada por uma camada pobre, que abandonara o litoral. A economia precária baseada numa agricultura de subsistência determinou a necessidade de atividades complementares, originando o bandeirismo, porém nem todo homem paulista tornou-se bandeirante. Muitos deles, que inicialmente se dedicaram ao apresamento indígena, se fixaram em terras no sul e, com o passar do tempo, foram se integrando ao pequeno comércio, praticado no lombo de mulas.

Com uma população composta por homens de origem vicentina e portuguesa, a vila de Laguna era o ponto extremo do litoral brasileiro. Dela partiram muitas famílias para outras áreas do interior do sul, também preocupadas com o apresamento indígena num primeiro momento, e que tomaram contato com a criação de gado, praticada nas missões jesuíticas.

A própria história do Rio Grande do Sul deu origem a elementos que se dedicariam ao tropeirismo. A necessidade de povoar a região, segundo interesses dos portugueses, fez com que o governo real facilitasse o acesso à terra e garantisse um elevado grau de liberdade e autonomia para a região, fato que, teve como uma de suas conseqüências o predomínio da grande propriedade no século XVII, que beneficiava poucas famílias e marginalizava grande parte do sociedade que ali se formava.

O tropeiro iniciava-se na profissão por volta dos 10 anos, acompanhando o pai, que era o negociante (compra e venda de animais) o condutor da tropa. Usava chapelão de feltro cinza ou marrom, de abas viradas, camisa de cor similar ao chapéu de pano forte, manta ou beata com uma abertura no centro, jogada sobre o ombro, botas de couro flexível que chegavam até o meio da coxa para proteger-se nos terrenos alagados e matas.

No Rio Grande do Sul, a cidade de Viamão tornou-se um dos principais centros de comércio e formação de tropas que tinham como destino os mercados de São Paulo, porém, de outras regiões do sul partiam as tropas, quase sempre com o mesmo destino.

Nesses trajetos, os tropeiros procuravam seguir o curso dos rios ou atravessar as áreas mais abertas, os “campos gerais” e mesmo conhecendo os caminhos mais seguros, o trajeto envolvia várias semanas. Ao final de cada dia era aceso o fogo, para depois construir uma tenda com os couros que serviam para cobrir a carga dos animais, reservando alguns para colocar no chão, onde dormiam envoltos em seu manto. Chamava-se “encosto” o pouso em pasto aberto e “rancho” quando já havia um abrigo construído.

Ao longo do tempo os principais pousos se transformaram em povoações e vilas. É interessante notar que dezenas de cidades do interior na região sul do Brasil e mesmo em São Paulo, atribuem sua origem a atividade dos tropeiros.

A alimentação dos tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho (feijão tropeiro) que era servido com farofa e couve picada. Bebidas alcoólicas só eram permitidas em ocasiões especiais: quando nos dias muitos frios tomavam um pouco de cachaça para evitar constipação e como remédio para picada de insetos.

O tropeiro montava um cavalo que possuía sacola para guardar a capa, a sela apetrechada, suspendia-se em pesados estribos e enfeitava a crina com fitas. Chamavam “madrinha” o cavalo ou mula já envelhecida e bastante conhecida dos outros animais para poder atraídos era a cabeça da tropa e abria o percurso, com a fila de cargueiros à sua retaguarda; “malotagem” eram os apetrechos e arreios necessários de cada animal e acondicionamento da carga e “broaca” os bolsões de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para guardar a mercadoria.

Em torno dessa atividade primitiva nasceram e viveram com largueza várias profissões e indústrias organizadas, como a de “rancheiro”, proprietários de “rancho” ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente não era retribuída a hospedagem, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque as tropas conduziam cozinhas próprias. A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas e acumulando geralmente a profissão de aveitar ou veterinário. A incumbência de domar os animais ainda chucros era também uma decorrência do regime de transportes e chamavam-se “paulistas”, porque conduziam ao destino os animais adquiridos em Sorocaba.

No norte de Minas, “paulista”, “peão” e “amontador” eram sinônimos, mas tinham significação específica. Assim é que “paulista” era o indivíduo que amansava as bestas à maneira dos peões de São Paulo. Peão, era todo amansador de eqüinos e muares à moda do sertão, e “amontador” era apenas o que montava animais bravios para efeito de quebrar-lhes o ardor. Depois é que vinha o “acertador”, homem hábil e paciente, que ensinava as andaduras ao animal e educava-lhe a boca ao contato do freio. É a mais nobre de todas.

Conclusão: Percebemos a importância da atividade dos tropeiros de diferentes maneiras: o abastecimento da região mineradora e outras, sem os quais a exploração das jazidas seria impossível; a ocupação da região interior do Brasil, contribuindo para consolidar o domínio português, ao mesmo tempo em que fundaram diversas vilas e cidades. O comércio de animais foi fator determinante para integrar efetivamente o sul ao restante do Brasil.

Apesar das diferenças culturais entre as regiões da colônia, os interesses mercantis foram responsáveis por essa fusão e indiretamente, pela prosperidade, tanto da grande propriedade estancieira gaúcha, como de pequenas propriedades familiares, em regiões onde predominaram populações de origem européia e que abasteciam de alimentos as fazendas pecuaristas.

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