sexta-feira, 5 de março de 2010

Censura a blogs policiais. E a policiais blogueiros. Você tem medo de quê?

terça-feira, 20 de janeiro de
Algumas vezes aqui no BSP abordamos o medo que os comandantes e chefes de polícia em geral tem dos blogs mantidos por integrantes da corporação. É uma coisa incrível e aparentemente inexplicável, mas eu ainda tento entender o por quê. Talvez por isso os caras não gostavam de mim – sempre procurei saber os porquês das coisas. Para gente desqualificada é difícil lidar com isso.
Esses medos não são exclusividade do meio policial. Alguns veículos jornalísticos, com medo de perderem leitores, também se comportaram assim, gerando forte reação de blogs importantes, como o Sedentário & Hiperativo, o Pensar Enlouquece, o Contraditorium, o Dia de Folga e o Brainstorm #9. Só que no universo policial esse sentimento de repulsa a blogs tem consequências muito mais graves, uma vez que o poder hierárquico-disciplinar se manifesta com muito mais força, além do que muitos comandantes acham que a instituição tem ainda o que esconder – querem manter fechada a caixa-preta que acoberta a incompetência, a corrupção e a mamata nas tetas gordas da instituição e dos, digamos assim, colaboradores.
Exemplos recentes dão conta de que o delegado Conde Guerra teve seu blog retirado do ar pela Justiça por duas vezes, a pedido de figurões da polícia, claro, e do próprio governador de São Paulo. Felizmente, o Flit Paralisante já está no ar novamente, em outro servidor. O Roger, do Cultcoolfreak, também passou por dificuldades com chefes. O Wanderby e o Luis Alexandre atiçaram onças com vara curta e até o Capitão Mano, que mal entrou na blogosfera policial, já tem um IPM só dele. A Associação de Praças da PM de Santa Catarina também teve seu site tirado do ar pela Justiça, sob o argumento de que incitava a indisciplina. A comunidade da PMDF no Orkut já teve seus moderadores ameaçados de punição e tiveram que coibir os fakes por lá. Até eu, que já pendurei o boot bute há 2 anos, respondi, quer dizer, fiquei calado, em um IPM que a PMDF instaurou contra mim – não deu em nada, claro, não cometi crime algum. Meu chefe no tribunal até recebeu um ofício do comandante da PM (que caiu por denúncias de corrupção – pedala, Robinho!) pedindo para me punir pelo que eu escrevia no BSP.
O Eduardo ironizou a censura, como era feito na época da ditadura, publicando uma receita. Receita de burritos. Trocadilho perfeito! Enquanto isso, o Danillo Ferreira fez um excelente post sobre como medir a importância dos blogs policiais e um outro sobre esses probleminhas por que passaram alguns policiais blogueiros. Blogs em geral são avaliados pela quantidade de leitores fiéis, mas os blogs de policiais, mesmo com poucos leitores, estão abalando muitas estruturas e sacudindo paradigmas velhos e carcomidos nas polícias, em especial no que se refere à liberdade de informação, tanto interna corporis como perante a população em geral.
Tanto é que os titulares de três dos melhores blogs policiais brasileiros, o Danillo, o Roger e o Alexandre Sousa (faltou o Eduardo para completar o super-time) foram convidados para uma mesa de debates sobre blogs policiais no Campus Party, que é nada menos que o maior evento de tecnologia da atualidade.
O Danilo, que ainda é cadete da PMBA, foi autorizado a ir numa boa. Vai representar a PM da Bahia e mostrar aos participantes do evento que PM também pensa, desfazendo os estereótipos que normalmente recaem sobre os policiais: burros, truculentos e completamente alheios à sociedade.
O Roger, pioneiro e fundador da blogosfera policial, se entristeceu com a profissão de tanta bandalheira que viu, mas ainda não se livrou do vírus de polícia, mesmo depois de ter saído. Voltou a blogar sobre o tema e vai dar excelente contribuição, representando a classe.
Com o Alexandre Sousa o negócio foi um pouco diferente. Em um primeiro momento, ele foi autorizado a ir, marcou passagens, planejou-se, criou expectativas para os organizadores, mas logo disseram a ele que a autorização foi revogada. No entanto, em uma atitude inteligente do comando, ele acabou sendo autorizado e vai representar muito bem a PMERJ no evento, mostrando o lado bom da polícia fluminense, que não se resume àquela tristemente retratada no filme Tropa de Elite.
Eu fico aqui me perguntando, sobre os comandantes e chefes de polícia que tentam de alguma forma censurar os blogs e as manifestações em público de policiais: do que é que esses caras têm medo? Será que um policial, falando em público ou mediante um blog, sobre sua vivência na instituição, poderia de alguma forma abalar mais ainda a já tão combalida imagem das polícias brasileiras?
Não seriam, ao contrário, os blogs, belíssimas oportunidades para tentar mostrar o que há de bom nas polícias? Não seria oportuno que as polícias pegassem as críticas feitas em blogs e, em vez de censurá-los, procurar as soluções para os problemas apontados pelos corajosos policiais blogueiros?
Nem se os blogueiros estivessem completamente mal intencionados, o que não é o caso, eles conseguiriam afundar ainda mais a imagem das polícias brasileiras no mar de lama em que elas já se encontram por (ir)responsabilidade própria. O fundo do poço já chegou, senhores comandantes, diretores e delegados-gerais. Não tem mais para onde cavar não.
Quando apontam corrupção nas polícias, os blogueiros estão enganados? Estão mentindo ou contando alguma novidade?
Quando revelam o grande segredo de que nesse ou naquele estado os policiais ganham 800 mangos 2 salários mínimos para trocar tiro com traficante, seria mentira? Seria novidade?
Quando se diz que o PM trabalha desmotivado, com medo de morrer, de tiro ou de fome, seria mentira? Seria novidade?
Quem lê blogs policiais percebe com clareza que os autores são pessoas apaixonadas pela profissão policial e só revelam mazelas da instituição, como baixos salários, corrupção e incompetência administrativa, com a finalidade de que alguém, comando, governo, imprensa, justiça, tome atitudes sérias para combater esse mal. Além disso, trazem a temática policial para o grande público sob um ponto de vista nunca antes explorado: o do próprio policial. 
Muitos policiais que tem blogs não criticam os erros de suas instituições pelo compreensível medo de represálias. Eles não criticam e não criticarão. Mas eu vou criticar. Não simplesmente porque me são livres o pensamento e sua manifestação, o que não ocorre com os policiais militares, por exemplo. Mas sim porque os caras pedem. Ah pedem.
Fala a verdade: você, comandante ou chefe de polícia, fica sabendo que um policial atinge milhares de leitores/ dia com seus textos e, em vez de chamar o blogueiro para junto de si, incentivá-lo a produzir mais e melhores textos, aproveitando seu apurado senso crítico e o inédito canal de comunicação com a sociedade para identificar os problemas e buscar soluções, faz exatamente o contrário: censura o blog, pune o policial, dando razão a todas as críticas, passando assim o recado de que a instituição, com esse comportamento, não está interessada em melhorar, em corrigir os erros do passado, em pensar algo melhor para o futuro.
Tem gente que diz que o penitente precisa do sofrimento em vida para atingir o paraíso na eternidade. As polícias, ao que parece, padecem do mesmo mal. Precisam manter suas imagens afundadas, para que sempre estejam levando pedradas e coloquem a culpa de suas mazelas nos playboyzinhos maconheiros da classe média-alta, nos direitos humanos, na sociedade, no governo, na imprensa, no Judiciário etc.
A polícia como um todo, comporta-se como quem quer ser eternamente alvo de piedade. Tem medo de fazer coisas boas, de parecer eficiente, de destacar o que há de bom internamente. Quer viver eternamente ajoelhada no milho. Mas sem a contrapartida do paraíso eterno, nem mesmo um pequeno nirvana momentâneo. Sobretudo, tem medo de curar seus próprios males. Aliás, medo não. Simplesmente não querem crescer. “- É um desafio muito grande, dá muito trabalho, e só faltam alguns anos para a minha aposentadoria”, normalmente dizem os omissos chefes.
Enquanto continuarem se comportando assim, vou manter minhas contribuições externas, com açoite e salmoura, para essa auto-flagelação de culto ao deus da preguiça e da malandragem, pois estão fazendo por merecer.
Contudo, por outro lado, se quiserem melhorar, um excelente primeiro passo seria ouvir seus blogueiros. Não censurá-los.

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