Psiquiatra x Comando da PM: quem tem razão?
Psiquiatra diz que policial que perdeu o controle em Joinville tem transtorno bipolar
Comando da PM diz que ele está apto para atuar nas ruas
O policial militar que aparece transtornado em um vídeo gravado por moradores do bairro Adhemar Garcia, na zona Sul de Joinville, é doente ou teve um dia de fúria? Para o psiquiatra do PM Ronaldo Bezerra da Siva, seu paciente sofre de transtorno bipolar e não deveria estar trabalhando nas ruas. Para o comando da PM, ele está apto a trabalhar.
O soldado que protagonizou as cenas é Mário Casprechen. Ele faz tratamento desde 2007, quando ficou afastado da corporação por seis meses por causa de estresse. O vice-presidente da Aprasc na região Norte, Elisandro Lotin de Souza, garante que o comando da PM sabia da doença e que o soldado não tinha condições de trabalhar. O comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, Adilson Michelli, nega e garante que Mário estava em condições de trabalhar.
Na noite de quarta-feira, quando atendia uma ocorrência envolvendo crianças e adolescentes, o policial perdeu o controle. Conforme moradores, o PM chegou agressivo no local e com a arma apontada para crianças e adolescentes. Um dos pais não gostou da atitude e foi falar com o policial.
No meio da discussão, Mário deu um tiro no chão. A bala acertou a calçada. O pai gravou a cena, em que o soldado aparece falando alto, dá a arma para um dos adolescentes e, depois, tira a roupa. O impasse durou cerca de duas horas, até que o soldado fosse levado por colegas.
Depois da confusão, os pais das nove crianças que estavam brincando foram até o posto de polícia do bairro e encontraram Mário ainda em serviço.
— Levei um susto quando vi ele na mesma sala. Perguntei o que estava fazendo. Aí, tiraram ele dali —, disse o pai que filmou a cena.
Há aproximadamente dois meses ele atuava em Joinville, em barreiras de fiscalização, no trânsito. Na quarta-feira, o PM preferiu não ir para a rua, e sim trabalhar no posto da Polícia Comunitária do bairro Adhemar Garcia, quando atendeu um homem que pedia ajuda porque crianças estariam jogando futebol da rua e causando incômodo.
— O que me surpreende é a PM (Polícia Militar) colocar ele na ronda. Ele não tinha noção do que fazia. Não sei o motivo de não levarem ele para um hospital —, afirma o psiquiatra.
Na manhã de sexta, o comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, Adilson Michelli, disse que uma atitude assim é rara dentro da corporação e comentou que o soldado é uma pessoa calma normalmente, mas admite que ele tinha um histórico de estresse e que foi tratado.
Na manhã de sexta, o comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, Adilson Michelli, disse que uma atitude assim é rara dentro da corporação e comentou que o soldado é uma pessoa calma normalmente, mas admite que ele tinha um histórico de estresse e que foi tratado.
— O PM teve um surto —, garante.
O policial será avaliado na segunda por uma junta médica da PM, em Florianópolis, que irá tratá-lo ou liberá-lo para continuar trabalhando.
SOLDADO CONTA COMO FOI A REAÇÃO
Mário Casprechen trabalha há 13 anos na corporação e não se recorda de ter se envolvido em uma confusão com esta mostrada no vídeo gravado pelo moradores do bairro Adhemar Garcia. Na tarde de sexta, em casa, ele disse que encontrou um grupo de pessoas agressivas e que deu um tiro para o chão como advertência.
— Até esse momento, obedeci a todos os procedimentos. Me chamaram de assalariado e de guardinha. Me irritei com aquela situação —, lembra.
O policial admite que tem transtorno bipolar e que por isso não queria estar trabalhando na rua.
— Estou alegre e de repente o meu humor desanda —, comenta.
Antes de trabalhar em Joinville, Mário estava em São Franscisco do Sul. Conforme o vice-presidente da Aprasc na região Norte, Elisandro Lotin de Souza, o policial teve um problema interno na cidade vizinha há poucos meses.
Antes de trabalhar em Joinville, Mário estava em São Franscisco do Sul. Conforme o vice-presidente da Aprasc na região Norte, Elisandro Lotin de Souza, o policial teve um problema interno na cidade vizinha há poucos meses.
— Naquela época, eu já tinha alertado verbalmente o comando que ele não poderia portar arma nem ficar na rua. Mas colocaram ele até para fazer blitze. Imagina o risco —, critica.
Na noite de sexta, Elisandro também protestava contra o atendimento ao policial militar depois do episódio no Adhemar Garcia.
— A Polícia Militar deixou ele abandonado. Ficou jogado em casa, numa situação de risco, sem qualquer supervisão —, disse o representante da Aprasc.
Em 2007, Mário ficou afastado por seis meses por causa da doença. Desde então, tem se tratado com o psiquiatra Ronaldo Bezerra da Siva. Ele toma diariamente os remédios risperidona (antipsicótico), oxcarbazepina (epilepsia) e lorazepan (calmante).
POLICIAL ESTÁ APTO NO SISTEMA
O comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar (zona Sul), tenente-coronoel Adilson Michelli, afirma que nenhum documento impedia a atuação de Mário Casprechen nas atividades normais da PM.
— O nosso sistema informa que ele está apto para trabalhar, portar arma e até subir em prédio. Nenhuma informação contrária é verdadeira —, diz.
Michelli defende a ação do policial no momento em que ele fez um disparo.
— Ele estava cercado por uma multidão, em situação de ameaça. E foi um único tiro, em direção ao chão. Essa ação foi legítima —, argumenta.
Conforme Michelli, o policial foi acompanhado pelo comando da PM durante todo o dia – ele foi afastado pela manhã e vai responder a um inquérito policial militar.
— Ele foi medicado à tarde. Estava calmo, em casa —, alega.
Na noite de sexta, o tenente-coronel afirmou que já havia providenciado atendimento a Mário no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt. Segundo Michelli, o policial seria examinado por um psiquiatra e, se fosse permitido, passaria a noite de sexta supervisionado por um comandante. A ação dos policiais militares envolvidos na ocorrência depois que Mário teve o descontrole também é defendida por Michelli.
— Eles o levaram de volta para a base, onde ele foi medicado e se acalmou. Não tinha como ser diferente. Depois ele passou a noite toda dormindo —, afirma.
Em nota, o comandante-geral da PM no Estado, coronel Nazareno Marcineiro, afirma que o policial "está sendo assistido pela Diretoria de Saúde da Corporação e por todo o aparato disponível para atendimento do efetivo".
Na mesma nota, Marcineiro afirma que a corparação "diuturnamente encontra-se exposta a situações de alto nível de estresse" e desculpa-se pelo "fato isolado".
PROBLEMA DE SAÚDE É COMUM
A cada ano, a PM tem 432 homens afastados por problemas de saúde em consequência do estresse. Segundo o capitão psicólogo Darlan Novaes de Queiroz, coordenador do Programa de Segurança de Estresse Profissional e Pós-traumático da corporação, estes homens ficam em média 38 dias fora do serviço. Segundo Queiroz, uma pesquisa realizada no Brasil apontou a atividade policial como trabalho mais estressante. Os motivos são o alto risco de morte e o convívio com a violência.
O capitão explicou que o programa da PM atua com prevenção. A tropa é treinada para identificar os sinais de estresse e conseguir conviver com o problema de forma saudável. As informações são repassadas nos cursos da corporação e abrange todos os integrantes. Quando o um policial está com problemas, ele é avaliado por uma junta médica – composta por três médicos sendo um psiquiatra.
Fonte: CLICRBS via Família Velames
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