Nesta primeira parte, veremos a caixa em forma de paralelepípedo retângulo.
Certo dia um colega do DAC (Departamento de Administração e Contabilidade) da UFCG, fez-me a seguinte pergunta: quando eu cursava o ensino médio (antigo secundário), o professor de matemática apresentou-nos duas fórmulas que dão ternos pitagóricos:
Fórmula de Pitágoras:
Fórmula de Platão:
Pergunto-lhe: para que serve, na prática, os ternos pitagóricos?
Mesmo sendo de uma área de humanas, sempre fui fanático pela teoria dos números. E após tomar conhecimento de um dos pensamentos de Einstein, o qual diz: "A imaginação é mais importante que o conhecimento", comecei a imaginar que tipo de problema eu poderia apresentar ao meu colega, que para solucioná-lo teria que usar os ternos pitagóricos.
Decorridos alguns dias, apresentei, ao colega, o seguinte problema:
Suponha, caro colega, que você deseja montar um pequenonegócio, após sua aposentadoria, voltado para a confecção de caixas em forma de paralelepípedo retângulo, obedecendo às seguintes exigências de mercado: a medida do lado menor de cada caixa, obrigatoriamente, tem que ser (onde é um primo) e, além disso, a diagonal da base da caixa e as dimensões da caixam sejam números inteiros. Quantas caixas diferentes poderão ser confeccionadas? Quais as dimensões de cada caixa?
Resolução: A figura abaixo é um paralelepípedo retângulo, onde são mostradas, respectivamente, a diagonal da base e a diagonal do paralelepípedo.
Como os triângulos e são retângulos e, além disso, , então, fazendo coincidir com , obtém-se:
A diagonal () da base é tal que . Para a diagonal () do paralelepípedo, temos:
Portanto, a fim de que os lados, a altura e a diagonal da base do paralelepípedo sejam números inteiros, basta que os dois ternos e sejam pitagóricos.
Já que , logo, as dimensões de cada caixa e sua diagonal, em números inteiros, são dadas pela quadra .
Seja o lado menor de cada caixa. Como o triângulo tem que ser pitagórico, logo, ou . Uma vez que e são inteiros, logo, tem que dividir sem deixar resto. Logo, são os divisores positivos de . Como é um primo ímpar, os divisores de são: , e . Substituindo , e , obtém-se os seguintes sistemas de equações:
Dos três sistemas de equações acima, somente o é compatível. Resolvendo o , obtém-se:
Já que , então . Por outro lado, sendo um primo ímpar, então é um primo ímpar ou número ímpar composto.
Se for um primo ímpar, então, chega-se aos mesmos resultados que se chegou para , ou seja, três sistemas de equações, , e , dos quais somente o é compatível e obtém-se para e as seguintes expressões:
Se for um número composto ímpar, então, . Como e são inteiros, logo, são os divisores positivos de . Então, o número de ternos pitagóricos é igual ao número de vezes em que dividir sem deixar resto. Se , então
Resposta: Se e forem dois primos ímpares, então, só é possível confeccionar uma única caixa.
As medidas das diagonais são dadas por:
,
As dimensões da caixa são dadas por:
Se for um número primo ímpar e um número ímpar composto, então, o número de caixas que poderá ser confeccionado será igual ao número de vezes em que sem deixar restos.
As medidas das diagonais são dadas por:
Note que: só será inteiro se dividir .
As medidas das dimensões são dadas por:
Exemplo 1: Suponha que seja feita uma encomenda de caixas, com as seguintes condições: as dimensões, a diagonal da base e a diagonal de cada caixa devem ser números inteiros e, além disso, uma das dimensões de cada caixa tenha, por exemplo, (primo ímpar). Quantas caixas poderão ser confeccionadas, e quais as dimensões de cada caixa a fim de que o volume seja:
a) máximo;
b) mínimo.
Resolução:
Cálculo da diagonal da caixa: Como , vem .
Como a diagonal da base é um número ímpar composto, logo, o número de caixas que poderá ser confeccionado será igual ao número de vezes em que dividir sem deixar resto. Os divisores de menores que são: e . Portanto, poderão ser confeccionadas duas caixas com o lado menor igual a .
Cálculo da diagonal de cada caixa:
Para e , temos:
caixa:
Para e , temos:
caixa:
Cálculo das dimensões de cada caixa
caixa:
Verificação:
caixa:
e
Verificação:
Volume da caixa:
Volume da caixa:
Resposta: Podem ser confeccionadas duas caixas, cada caixa com um das dimensões igual a .
a) volume máximo: (primeira caixa)
b) volume mínimo: (segunda caixa)
Exemplo 2: Suponha que seja feita uma encomenda de caixas, com as seguintes condições: as dimensões, a diagonal da base e a diagonal de caixa sejam números inteiros e, além disso, uma das dimensões de cada caixa tenha, por exemplo, . Quantas caixas poderão ser confeccionadas, e quais as dimensões de cada caixa a fim de que o volume seja:
a) máximo;
b) mínimo.
Resolução: Como é par, o número de diagonais da caixa será igual ao número de vezes em que sem deixar resto. Os divisores pares de menores que , são: , , e . Logo, e .
Cálculo da diagonal da base de cada caixa:
Como é um número primo, logo, só é possível confeccionar uma caixa com a diagonal da base igual a .
Cálculo da diagonal da caixa:
Como , obtém-se
Cálculo das dimensões da caixa:
Como é par, logo, o número de diagonais da caixa é igual ao número de vezes em que (par) sem deixar resto. Os divisores de menores que , são: , , , e . Logo, e .
Cálculo da diagonal das outras caixas:
Para e , obtém-se: ( não divide )
Cálculo das dimensões da caixa:
Cálculo das dimensões da caixa:
Cálculo das dimensões da caixa:
Cálculo das dimensões da caixa:
Como é um número ímpar composto, logo, o número de diagonais da caixa é igual ao número de vezes em que dividir sem deixar resto. Os divisores de menores que são: e . Logo, , , e .
Cálculo da diagonal de cada caixa:
Para e , temos:
Para e , obtém-se:
Para e , obtém-se:
Para e , obtém-se:
Cálculo das dimensões da caixa:
Cálculo das dimensões da caixa:
Cálculo das dimensões da caixa:
Cálculo das dimensões da caixa:
Como é umn número primo, logo, só é possível confeccionar uma caixa com a diagonal da base igual a .
Cálculo da diagonal da caixa:
Como , obtém-se:
Cálculo das dimensões da caixa:
Assim, podem ser confeccionadas dez caixas, cada caixa com uma das dimensões igual a , sendo a caixa possui volume máximo igual a e a caixa possui volume mínimo igual a .
Conclusão: Dadas as condições de que as dimensões, a diagonal da base e a diagonal, de uma determinada caixa, sejam números inteiros, se entre as diagonais da base existirem números compostos e primos ímpares, então, entre todas as caixas a de maior volume será aquela que tiver a diagonal da base expressa por um primo ímpar maior do que qualquer número composto.
Artigo enviado por Sebastião Vieira do Nascimento (Sebá). Professor titular (por concurso) aposentado da UFCG - Universidade Federal de Campina Grande - PB. Cidade: Campina Grande - PB. e-mail: se.ba@uol.com.br
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