segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Psicológico ajuda a explicar abordagens policiais desastrosas

Psicológico ajuda a explicar abordagens policiais desastrosas

Luciana Cristo

Arquivo
Nervosismo, ansiedade e até depressão muitas vezes acompanham os policiais militares nas abordagens.

Nervosismo. Ansiedade. Insônia. Depressão. Síndrome do Pânico. Paranóia. Esses são sintomas freqüentes apresentados por policiais militares (PMs) que chegam para um acompanhamento psicológico.

Depois da morte da estudante Rafaeli Ramos Lima, na cidade de Porto Amazonas, na região dos Campos Gerais, questionamentos sobre a violência empregada em ações policiais no Paraná tornaram-se mais incisivos. Parte da resposta para esses questionamentos pode estar nos problemas psicológicos enfrentados por esses profissionais e ao receio de procurar o serviço de auxílio.

A constante adrenalina e os turnos puxados a que os policiais são submetidos contribuem para situações de descontrole emocional, conforme aponta o psicólogo Celso Barreto.

“Eles reprimem tanto suas emoções enquanto trabalham que uma hora isso estoura. Os PMs têm problemas particulares emocionais e econômicos e, na falta de um acompanhamento psicológico adequado, estão passíveis de cometer erros”, afirma.

Quando detectado algum distúrbio, a dificuldade está em liberar o profissional do trabalho para recuperação. “Mesmo com laudo conjunto com um psiquiatra, é difícil a perícia aceitar um afastamento. Enquanto esse profissional é obrigado a voltar a trabalhar, outros problemas podem aparecer, o que agrava o quadro deles no trabalho e a chance de grandes acidentes ocorrerem aumenta”, alerta o psicólogo.

Muitas vezes, a procura pelo atendimento psicológico não acontece pelo receio de comentários maldosos que podem ser feitos pelos colegas, como conta a esposa de um policial militar.

“Muitos não procuram o serviço por vergonha. Outro problema é a demora para marcar uma consulta, só disponível para depois de dois ou três meses. Nesse tempo, o policial continua trabalhando. E não são todos que estão preparados para enfrentar situações em que se mata ou se morre”, relata.

Avaliação


A obrigatoriedade de avaliação psicológica periódica de policiais militares, civis, federais e agentes penitenciários está prevista na Lei 3.405/08. De autoria do deputado Dr. Talmir (PV-SP), o projeto tramita na Câmara dos Deputados.

Pela proposta, a avaliação será feita por médico, psicólogo e assistente social que, caso necessário, devem apresentar parecer sobre a necessidade de exercício temporário de outra atividade ou suspensão temporária do cargo.

Sem respostas

Quem deveria responder oficialmente sobre o acompanhamento psicológico dos policiais seria o major Márcio de Modesti, do Serviço de Assistência à Saúde (SAS) da Polícia Militar do Paraná (PMPR). A entrevista não aconteceu porque o major está de férias.

Delazari “esconde” treinamento da PM

No centro de toda essa recente discussão, está a qualificação do treinamento na Escola de Formação de Oficiais. De duração média de seis meses, o curso possibilita que, após a sua conclusão, o candidato se torne policial militar e possa atuar em qualquer cidade do Paraná, de acordo com as necessidades da corporação.

Durante esta semana, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) divulgou que a preparação de policiais militares do Paraná é referência nacional. Entretanto, a reportagem de O Estado não pôde acompanhar um dia de treinamento desses policiais na Academia Policial Militar do Guatupê porque a Sesp não autorizou o acompanhamento.

A determinação, que impossibilitou avaliar a suficiência do treinamento - tão questionado nas últimas semanas - partiu do secretário Luiz Fernando Delazari mesmo depois que a entrevista e o acompanhamento na academia já estavam agendados com a assessoria da PMPR.

A reportagem solicitou à PMPR o programa com carga horária e disciplinas que o policial cursa durante o treinamento, antes de sair às ruas, o que também não foi fornecido.

Ainda segundo a Sesp, existe um plano anual programado pelo setor de planejamento em que as unidades devem, durante cada mês, cumprir diversos tópicos de reciclagem nas sedes de batalhões.

Além do trabalho nas escalas, o policial tem uma reunião com os demais da equipe para receber a instrução de manutenção, relembrando técnicas principais de abordagem, confrontos armados, tratamento com o público com ênfase em polícia comunitária e estudos de caso.

Ao contrário de secretarias de Segurança Pública de Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, a Sesp do Paraná não forneceu o número de pessoas mortas e feridas durante as abordagens policiais feitas em 2007 e nos seis primeiros meses deste ano; o número de policiais mortos ou feridos nem o número de pessoas presas em flagrante nessas abordagens. O único dado repassado foi o total
de abordagens em Curitiba e região metropolitana no ano passado: 417.403.

“Abuso de poder vem da arma”

Embora o uso do revólver só devesse ser feito em caso de defesa própria ou de terceiros, o porte da arma por um policial pode levá-lo ao abuso do poder. Essa postura é criticada pelo advogado criminalista Juarez Cirino, do Instituto de
Criminologia e Política Criminal.

“A polícia não tem o dever legal de sair por aí atirando a esmo e em pessoas erradas. Matar em estrito cumprimento do dever legal só acontece com carrascos em países que adotam a pena de morte”, compara. Ao contrário da garantia constitucional de presunção de inocência de todos os cidadãos, a abordagem policial partiria do princípio de que todos são culpados. “A violação dos direitos humanos explica o fato de a polícia cometer abusos e meter os pés pelas mãos. Num processo sumário que só se passa na cabeça do policial, o abordado já é acusado, processado, condenado e executado, privado do direito ao devido processo legal”, diz.

Uma mudança de comportamento e visão do próprio trabalho seria necessária para a conseqüente mudança de postura do policial diante das pessoas abordadas. “Nossa polícia está contaminada pelo conceito de polícia operativa, não mais preocupada em esclarecer fatos, mas em acabar com a criminalidade, agindo segundo hipóteses e suspeitas, caso desse último acidente em Porto Amazonas. É esse sentimento de super-herói que mata os inocentes e que matou a Rafaeli”, finaliza.

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