Publicação: 27 de Março de 2010 às 00:00
As eleições para presidência da Cooperativa Cultural Universitária, que acontece na próxima terça-feira (30 de março) acendeu as discussões sobre o papel da instituição, criada em 1977. Em artigo publicado nesta TRIBUNA DO NORTE na última quarta-feira, o professor e escritor Carlos Newton Júnior, ex-presidente da Cooperativa, expõe uma série de medidas da atual administração, que podem levar ao seu fechamento. Uma delas é o encerramento das atividades da livraria às 18h. Outra crítica feita por Carlos Newton à atual administração diz respeito à escassez de atividades culturais promovidas pela Cooperativa.
Marcelo BarrosoMarco da vida universitária, a Cooperativa Cultural terá seu futuro traçado a partir da eleição da próxima terça-feira
A Cooperativa Cultural foi criada com o objetivo de incentivar a cultura, através da promoção de eventos culturais e artísticos, além de vender livros e outros produtos fomentadores do intelecto. Estruturada como uma livraria no Centro de Convivências da UFRN do campus de Lagoa Nova, ela assume uma dimensão pública por ser um patrimônio coletivo. E é. A cooperativa faz parte de um rito de passagem dos universitários.
A idéia de fundar uma cooperativa que viabilizasse a venda de livros técnicos e científicos, até então difíceis de serem adquiridos em Natal, partiu do professor Waldson Pinheiro, em 1976, quando era o chefe do Departamento de Letras da UFRN. O professor Waldson, com os colegas Waldomiro Cunha, do Departamento de Ciências Contábeis, e José Oscar Pereira, do Departamento de Ciências Sociais, juntamente com alunos do curso de Cooperativismo, alguns funcionários e professores da UFRN, realizaram diversas reuniões que culminaram na fundação da Cooperativa.
O reitor da UFRN era o prof. Domingos Gomes de Lima, que criou as condições para que o empreendimento desse os seus primeiros passos. Inicialmente, a Cooperativa funcionou em um galpão no Setor I, onde hoje está a sede do DCE. Só no início dos anos de 1980, transferiu-se para sua sede atual no Centro de Convivência da UFRN.
A Cooperativa é administrada por um Conselho Administrativo, mas também conta com um Conselho Fiscal. Ambos eleitos pelos sócios em assembleia. O Conselho é composto da seguinte forma: Presidente, Vice-Presidente, Secretário e por seis Conselheiros. A eles cabem, administrar a Cooperativa, tendo à frente o Presidente. As eleições são efetuadas a cada dois anos.
Eleição desta vez terá duas chapas
Estarão concorrendo duas chapas nas eleições que serão realizadas na próxima terça-feira, das 9h às 13h, no auditório da Biblioteca Central Zila Mamede, da UFRN. O professor Doutor em Educação Willington Germano, ex-presidente da Cooperativa e candidato a atual presidência, diz que a presença de duas chapas é uma novidade, pois as eleições sempre ocorrem com chapa única eleita por aclamação. Atualmente, existem duas chapas: a “Cultura e Democracia”, encabeçada pelo professor Germano, e a “Cultura e Modernização”, encabeçada pelo prof. Pedro de Lima, atual presidente, que concorre à reeleição. Podem votar os sócios em atividade, sejam eles professores, estudantes e funcionários.
A reportagem do VIVER conversou por telefone com o professor Pedro Lima, atual presidente da Cooperativa, e solicitou que ele se posicionasse com relação a alguns pontos levantados no artigo do professor Carlos Newton Junior. O Presidente preferiu não dar entrevista, já que havia solicitado a este jornal, o direito de resposta.
O VIVER convidou o professor Germano, citado inúmeras vezes no artigo publicado neste jornal, para traçar o panorama administrativo da Cooperativa Cultural na atualidade. O Professor Germano além de candidato à presidência da Cooperativa, também faz parte do Conselho Administrativo desta gestão.
Entrevista/professor Willington Germano
O professor Carlos Newton Júnior coloca no artigo publicado pela TRIBUNA, que “a Cooperativa está se dissolvendo como sal na água”, quando se refere à atual falta de diálogo entre os sócios e a comunidade em geral. A Cooperativa está realmente deixando de lado este diálogo?
É verdade. A atual diretoria se afastou do compromisso inerente ao cooperativismo, a gestão do patrimônio coletivo. Falo isso como integrante do Conselho Administrativo. Sem pretender desconsiderar ninguém, o prof. Carlos Newton, tem razão nos vários pontos que abordou no seu artigo. Desse modo, a atual direção, faltou ao diálogo, até mesmo com o Conselho Administrativo, pois várias medidas foram tomadas de forma autoritária. Somente depois, com os fatos consumados, é que os conselheiros tomavam conhecimentos de medidas adotadas, sem a prévia discussão e autorização do colegiado dirigente. Isso ocorreu em várias ocasiões. Foi assim, com a demissão de funcionários, foi assim com a transferência do setor reprografia para lugar inadequado, foi assim com as mudanças ocorridas no próprio espaço da Cooperativa que redundaram em fechamento e dificuldade de acesso. As mudanças implicam em despesas consideráveis e envolvem a vida das pessoas, de seres humanos. Ora, se isso aconteceu com o Conselho Administrativo, imagine o que iria ocorrer com os funcionários. Estes não tiveram voz e o mal-estar se instalou ao ponto deles recusarem o evento de confraternização natalina. Eles acharam que não havia clima. Do mesmo modo, Luiz Damasceno, um grande livreiro, um personagem marcante do universo humano de Natal, viu-se na contingência de pedir demissão. Todo esse procedimento redundou em perdas financeiras, por dois anos seguidos, fato nunca ocorrido na Cooperativa, nem mesmo nos tempos de Collor de Mello, e no afastamento das pessoas do espaço da livraria. É evidente, que o dialogo com os sócios e frequentadores da Cooperativa, foi restrito. Este é quadro de dificuldades atuais. É preciso, portanto, reativar o diálogo.
A cooperativa corre o risco de ser fechada ou ser diminuída de sua função precípua?
Ela correria o risco de fechar, caso o seu patrimônio continuasse a sofrer diminuição, como se verifica hoje. Mas acredito que isso não irá ocorrer, pois, certamente, os sócios da Cooperativa irão optar pela realização de mudanças.
Que papel deveria desempenhar a Cooperativa?
Uma cooperativa cultural deve ter um papel de protagonista no tocante a vida cultural dos seus associados e frequentadores, não deve ser uma mera casa comercial, embora faça comercio, deve ter um compromisso público com a democratização do conhecimento, com a democracia cognitiva, sem a qual não há democracia de qualquer espécie, como diz o eminente sociólogo Boaventura Santos.
Outros pontos levantados foram: demissão de funcionários antigos, decisões sem planejamento, modificação da logomarca (descaracterizando o sentido de cooperativa), encerramento das atividades da livraria no horário comercial. O que o senhor pretende fazer em sua gestão com relação ao que foi ressaltado por Carlos Newton?
Caso sejamos eleitos, como esperamos, os funcionários serão respeitados, serão tratados como sujeitos que têm voz, serão ouvidos, pois a nossa gestão irá se pautar pela participação. Iremos agir de forma planejada pois, como diz o pesquisador Carlos Matos, planejar é pensar antes de agir. Desse modo, as nossas ações serão tomadas tendo em vista salvaguardar e ampliar a saúde financeira da Cooperativa. Iremos agir de forma partilhada com o Conselho Administrativo e com outras instâncias de participação, não adotaremos a política dos fatos consumados.
http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/mais-perto-dos-estudantes/144078
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