sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Medo vence a alegria do esporte




Vicente Estevam - repórter

Saúde, Educação e Lazer: valores que estão intrinsecamente ligados ao esporte, aos poucos perderam terreno para o medo. Isso é o que se pôde comprovar na abertura da 40ª edição dos Jogos Escolares do RN (JERNs) realizada ontem de manhã no ginásio Machadinho para um público irrisório de atletas e estudantes. Preocupadas com os frequentes tumultos registrados nas edições anteriores, as instituições de ensino preferiram manter os estudantes dentro da sala de aula a liberá-los para prestigiar aquela que já foi a maior festa escolar do estado.

Adriano AbreuPoucos representantes das escolas participantes e a arquibancada ficou vazia
Poucos representantes das escolas participantes e a arquibancada ficou vazia
Numericamente falando, a disputa dos JERNs ainda é um evento grandioso, só este ano o governo estadual empregou cerca de R$ 1 milhão, contando as doze fases eliminatórias e a fase final. Ele movimenta um total de 30 mil alunos e 4.000 escolas. Só para participar da última fase Natal estará acomodando 3.500 atletas na luta por medalhas dentro das 28 modalidades, no entanto os frequentes registros de confrontos entre delinquentes juvenis de duas facções de torcidas rivais no futebol, vêm provocando o esvaziamento continuo da festa de abertura.

Assistindo ao evento sem conseguir esconder a tristeza por ver o desinteresse atual pelos jogos que ajudou a reconstruir, o professor Jamilson Martins fala com saudade do início da década, recordando que em 2000, a abertura dos Jerns gerava tanta expectativa que a organização decidiu realizar o desfile dos atletas no estádio Machadão completamente lotado por torcida de todas as instituições participantes.

Dessa vez, das entidades de ensino privado, apenas o Colégio das Neves enviou uma delegação com 40 atletas para acompanhar o evento inicial. Ao contrário daquilo que ocorria num passado recente, as escolas públicas foram as que arrancaram gritos de seus alunos nas arquibancadas, quando o nome delas eram pronunciados pelo locutor oficial da cerimônia e seus representantes entravam em quadra portando a bandeira da instituição. A cena se repetiu com a escola Lourdes Guilherme, Varela Barca, Floriano Cavalcanti, Padre Monte, Stella Wanderley, Augusto Severo e Régulo Tinoco.

Para a coordenadora de Desportos da Secretaria de Educação, Ana Dalva, a violência entre gangues infelizmente atirou a festa de abertura dos jogos à inexpressividade atual, pois pais e professores hoje já pensam duas vezes na hora de liberar filhos e alunos para comparecer a um evento como este. “Nós tentamos acabar com a violência através de vários artifícios, fizemos cerimônias fechada, ano passado, no auditório da antiga Cefet e, ainda assim, tivemos notícias de confrontos entre gangues no shopping em frente. Reforçamos o policiamento nos locais de abertura, porém as brigas agora costumam ocorrer em locais mais afastados. Está muito difícil de controlar essa situação, que passa por uma questão de educação mesmo”, disse, reconhecendo que este é o principal motivo para as escolas particulares não liberarem mais os seus alunos para as festas de abertura.

Quanto à lotação que ocorria no passado, ela frisou que isso também se devia muito pelo fato das escolas serem quase que obrigadas a levar toda sua delegação para o ginásio, uma vez que os boletins de competições eram distribuídos na hora e poderiam ocorrer jogos logo após a festa inicial. Ana Dalva já está convencida de que a abertura dos Jerns terá de ser revista para os próximos anos. “Tem que ser feito alguma coisa. Minha expectativa era de ver um público bem maior no ginásio. Chegamos a avaliar a ideia de realizar a festa no ginásio Nélio Dias (Zona Norte), mas resolvemos realizar no Machadinho pelo fato de podermos dar um abraço simbólico nesta praça que será demolida em poucos meses”, afirmou a coordenadora de Desportos.

Recordista entristece com a fase decadente 

Dos 40 anos de Jerns, o professor de Handebol do Colégio das Neves Creminaldo Souza juntando o tempo de atleta com o de treinador disputou nada menos que 33 edições dos jogos. Ele não escondia a decepção por ver a festa que já foi um marco do esporte estudantil entrar numa fase tão decadente.

“Comecei a participar dos Jerns aos 18 anos como atleta, hoje vivo outra fase, a de educador. Tem 27 anos que atuo como treinador e realmente torço muito para que a competição e sua abertura recupere o glamour de antes. É triste ver uma cerimônia que já foi tão representativa esvaziada, mas isso ocorre devido a violência dessas gangues travestidas de torcedores de futebol. Já esperava que isso fosse mesmo ocorrer algum dia”, reclamou.

Os grupos responsáveis por espalhar o terror nos eventos de esporte amador, na opinião de Creminaldo, estão fazendo com que essa modalidade perca a sua principal característica: trabalhar a socialização da juventude. “Se os nossos governos não se sensibilizarem com essas atitudes extremas, os Jerns vão acabar. Nossos políticos devem investir mais em saúde, segurança e educação para colocar um ponto final nisso. Sou otimista e prefiro pensar que com a vinda da Copa do Mundo para Natal e as Olimpíadas para o Rio de Janeiro as coisas devem melhorar muito nos próximos anos. Espero!”, destacou.

A vice-diretora do colégio Anísio Teixeira, Genúbia Alves, não escondeu o receio de levar uma delegação composta por 50 alunos para participar da festa. “Tem grupinhos que vem ao ginásio na intenção só de brigar. Tenho muito cuidado com os meus alunos e receio de que ocorra alguma confusão. Eles são todos menores de idade e temos de prestar muita atenção. Também acho que a entrada do pessoal deveria ser melhor controlada, para evitar o acesso de pessoas estranhas ao espetáculo”, salientou. (V.E.)

PM conduz 31 jovens à delegacia

Policiais militares da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) e do 5º Batalhão da PM frustraram no final da manhã de ontem, poucos instantes depois da cerimônia de abertura dos Jerns 2010, o que seria um confronto entre torcidas organizadas no bairro de Potilândia, próximo à entrada do Campus Universitário da UFRN. Contida a confusão, os 31 jovens envolvidos foram encaminhados para a Delegacia Especializada em Atendimento ao Menor Infrator (DEA). 

O confronto entre os jovens na entrada do Campus Universitário, inclusive, já havia sido marcado anteriormente, através da internet. Integrantes de torcidas organizadas rivais – a Garra, antiga Gang Alvinegra, do ABC, e a Dragão, conhecida antes como Máfia Vermelha, do América – já haviam trocado ameaças pelo site de relacionamento Orkut. “Recebemos essa informação e fomos atrás dos jovens. Quando chegamos ao bairro de Potilândia, a confusão estava formada. Eles atiravam pedras uns nos outros”, contou um dos policiais militares do 5º BPM – nome preservado.

Detidos, os 31 jovens – 24 deles, menores de 18 anos – foram encaminhados para a DEA, onde negaram ter se envolvido em algum tipo de confusão na saída do ginásio Machadinho, onde acompanharam a abertura dos Jerns. “Estávamos indo para casa”, justificou um deles. “Eles vão ser fichados e vão responder a processo por ato infracional correspondente a ‘rixa’. Não vamos liberar nenhum deles. Queremos, também, entrar em contato com os responsáveis para falar sobre esse problema que levou a apreensão”, afirmou o delegado titular de Delegacia Especializada, Júlio Costa. 

Os sete maiores de 18 anos presos na confusão foram: Talison Fernando Costa Silva, 18, Pedro Roberto de Brito Filho, 19, Wendel Renes Teixeira da Silva, 19, Maxwell de Oliveira Teixeira, 18, Almir Cândido do Nascimento, 18, Rafael Max Silva Batista, 19, e Kleiber Lopes Gomes, 19. “Eles devem ser encaminhados para a delegacia do bairro onde também responderão a processos”, afirmou Costa. Com o grupo, não foram encontradas drogas, nem armas. “Eles estavam jogando pedras uns nos outros”, apontou um dos policiais que efetuou a apreensão. 

Apesar da confusão ocorrida próximo à entrada do Campus Universitário, o comandante da Companhia Independente de Prevenção ao Uso das Drogas (Cipred), major Arthur Emílio, avaliou como positiva a ação policial para garantir a segurança dos alunos na abertura dos Jerns 2010. “Colocamos 50 policiais dentro do ginásio e 50 do lado de fora. Isso foi suficiente. Só a presença da PM já intimida os jovens, tanto que não encontramos ninguém com drogas ilícitas, nem com cigarro ou bebidas alcoólicas”, afirmou o major. (Ciro Marques)

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COMBATE VELADO | SAQUE VELADO | LADO R FT ANDRADE COMBAT | PARTE 1-25

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