Imagens foram feitas por ex-aluno durante acampamento.Para estudantes, Sampaio era delegado da Polícia Civil.
Bem ao estilo capitão Nascimento, do filme “Tropa de Elite”, o falso tenente-coronel da Polícia Militar, Carlos da Cruz Sampaio Júnior, dá o tom de sua autoridade diante de um grupo do Colégio Militar do Rio (CMRJ). “O tenente aqui sou eu”, diz, austero, para reprimir insubordinações de alunos durante uma excursão de treinamento em Paulo de Frontin, na região Sul Fluminense, em 2007.
A cena faz parte das imagens de vídeo feitas por um dos ex-alunos durante a viagem que durou três dias. No acampamento, Sampaio fez palestras, deu instruções de tiros e ministrou um curso de sobrevivência na selva com os estudantes.
Segundo o ex-aluno, que gravou as imagens e apresenta as etapas da aventura, Sampaio chegou a ensinar os jovens a dar tiros com fuzil de ar comprimido em um campo de paintbal.
Sampaio está preso desde o último dia 14, quando uma investigação da Secretaria de Segurança Pública descobriu que ele não pertencia às Forças Armadas, usava documentos falsos e possuía um revólver sem ter porte de arma.
O advogado de Sampaio, Rodrigo Roca, disse que, embora não tivesse permissão legal para dar curso no Colégio Militar, seu cliente tinha conhecimento da atividade e boa intenção.
Excursão com 20 adolescentes
Na excursão, ele levou pelo menos 20 jovens com idades entre 15 e 17 anos, recém-chegados ao CMRJ. A mesma denúncia, identificando o falso tenente-coronel como instrutor do colégio, também foi feita por uma ex-aluna.
“Ele se apresentava como delegado da Polícia Civil e nós todos chamávamos ele de delegado, delegado Sampaio”, revelou a ex-aluna.
Em uma das instruções, os adolescentes são obrigados a matar galinhas, num ritual grotesco, mas parecido com os ensinamentos dado aos escoteiros. Eles recebem ainda noções de primeiros-socorros, técnicas de ressuscitação, como massagem com pressão peitoral e respiração boca a boca.
Durante uma avaliação da expedição, um dos alunos reclama do frio e, alguns colegas, com a aquiescência do “comandante”, fazem gozação.
O próprio Sampaio brinca com uma aluna, preocupada com cobras na mata. “Aqui tem uma anaconda de 32 metros por três de largura”, afirma.
Colégio Militar
De acordo com as normas do CMRJ, a área prática para os estudantes é reservada a militares. Ao fim do último ano do ensino fundamental o aluno escolhe uma das opções de curso, paralelamente ao ensino médio: Cavalaria, Comunicações, Artilharia ou Infantaria.
Procurada pelo G1 para falar sobre o caso, a instituição informou, por meio de nota do Comando Militar do Leste, que o falso militar não foi contratado pela administração do colégio para ministrar cursos. A nota diz ainda que “o Comando Militar do Leste poderá determinar a instauração de algum processo investigativo, caso surja algum fato novo no decorrer das investigações que estão sendo muito bem conduzidas pelos Órgãos de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e que necessite ser esclarecido para a Administração Militar”.
O falso militar foi preso no prédio da Secretaria de Segurança, quando chegava para trabalhar. Com ele foi apreendido um revólver.
Carlos Sampaio responde por falsidade ideológica e porte ilegal de arma. A polícia investiga se a admissão do falso tenente-coronel do Exército foi autorizada por um integrante da cúpula da Secretaria de Segurança Pública.
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