sábado, 22 de janeiro de 2011

Lagoas ou depósitos de lixo?


Isaac Lira e Wagner Lopes - repórteres

Os alagamentos em Natal, com casas invadidas pelas águas da chuva e ruas interditadas, costumam ser alvo de bastante reclamação por parte de moradores. Contudo, a própria população tem responsabilidade na falta de estrutura de Natal para lidar com o período chuvoso. As lagoas de captação da cidade são alvo diário de ligações de esgoto clandestina e lixo, o que contribui para os alagamentos. Uma visita a esses equipamentos é suficiente para perceber que a falta de educação dos usuários é um componente importante nos problemas ocasionados pelas chuvas.

alex fernandesEm N.  Descoberta, a população faz da Lagoa do Preá um depósito de lixo e restos de construçãoEm N. Descoberta, a população faz da Lagoa do Preá um depósito de lixo e restos de construção

















Como o inverno ainda está para chegar, as lagoas estão praticamente vazias. Esse fato dá abertura para uma observação mais completa de como esses equipamentos são tratados. Um exemplo é a Lagoa do Jacaré, no bairro de Morro Branco. Mesmo com o pouco volume de água que caiu nos últimos dias em Natal, a lagoa já acumula água.

Além da água da chuva, encontramos líquido saindo da tubulação de esgoto, que não deveria está escoando para a lagoa. No local, a equipe de reportagem  da TRIBUNA DO NORTE, encontrou duas “tubulações”, com água servida sendo despejada. Segundo moradores, são essas as famosas ligações clandestinas.

Além disso, não é difícil flagrar lixo ao redor e dentro das lagoas de captação. Na Lagoa do Preá, em Nova Descoberta, o entulho fica acumulado nas bordas da lagoa. “Liguei para a Urbana e eles não vieram ainda limpar”, afirma Salete Gomes, de 57 anos, que mora em frente ao equipamento público. “A minha casa acaba repleta de mosquitos e baratas”, complementa. Além disso, carroceiros contribuem para o descaso, jogando lixo, pneus e até colchões na lagoa do Preá, segundo moradores.

Do outro lado do rio, os moradores do Loteamento José Sarney vivem problema semelhante. Há até animais sendo criados dentro da área destinada à captação de água da chuva. “As galerias ficam entupidas e quando chove, mesmo com a lagoa funcionando, a água vem parar na frente da minha casa”, diz Aline Duarte, 19 anos.

Já nos arredores da Lagoa de São Conrado, na Zona Oeste, o problema é com invasões à área pública, além dos costumeiros lixo e esgoto. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, os prédios comerciais e residenciais localizados ao lado da Lagoa do São Conrado respondem na Justiça um processo por invasão. “A área é pública e a Semurb havia conseguido uma decisão favorável, mas que foi revista”, diz Olegário Passos, titular da Semurb, acerca da reintegração do lugar. Há oficinas, pequenas lojas, casas, mercearias e até uma sede de empresa de ônibus no local.

Segundo o secretário municipal de Obras Públicas e infraestrutura, Sueldo Medeiros, a limpeza das lagoas de captação para a chegada do inverno deve começar nas próximas semanas. A existência de lixo e das ligações clandestinas entope as galerias e cria um “lodo” no leito das lagoas de captação, diminuindo a capacidade de armazenamento. No ano passado, somente na Lagoa de São Conrado mais de 200 carradas de entulho foram retiradas, o que aumentou a profundidade em 45 centímetros. Com as galerias entupidas e as lagoas “assoreadas”, fica mais fácil a água transbordar e causar transtornos em ruas e casas.

A reportagem da TN procurou a Semopi para obter detalhes sobre a retirada de lixo das lagoas, mas até o fechamento dessa edição não houve resposta.

Plano ainda sem data para ser apresentado

O trabalho de mapeamento das áreas de risco de enchentes foi concluído na região do Vale do Açu, na última semana, e prossegue até hoje no Vale do Apodi, em uma parceria do Corpo de Bombeiros com as prefeituras e comissões municipais de Defesa Civil (Comdecs). Os dados servirão para montar o planejamento de ações preventivas.

Uma das ações já confirmadas pelo comando do Corpo de Bombeiros será a simulação de evacuação dos moradores das áreas de risco, tanto no Açu, quanto no Apodi.

Além da retirada da população, também devem ser realizados exercícios com outros objetivos, como preparar a estrutura para a distribuição de alimentos. O contato com os órgãos de meteorologia será permanente e, caso as fortes chuvas sejam confirmadas, equipes de bombeiros devem ser deslocadas imediatamente para as áreas de risco. Caso sejam identificados problemas estruturais em barragens, pontes, rodovias e rios, que possam ser minimizados com obras emergenciais, os órgãos responsáveis serão imediatamente alertados.

Assú

As medidas emergenciais a serem tomadas pela Defesa Civil do estado podem reduzir os riscos para a população do Vale do Açu, diante das possíveis enchentes, mas o prefeito do município de Assu, Ivan Lopes Júnior, reforça que medidas definitivas precisam ser adotadas. “É preciso desassorear o rio Piranhas-Açu, que até hoje não passou por uma obra dessas e está cada vez mais parecido com um prato raso, onde qualquer quantidade de água a mais transborda”, compara.

A prefeitura local já vem elaborando um plano de contingência. Como medida preventiva, o prefeito cita a retirada de 125 famílias de áreas de risco, que, com apoio do Governo Federal, ganharam novas moradias em um local mais seguro. A região do Vale do Açu foi castigada por inundações em 2008 e 2009. Os alagamentos resultaram na perda de lavouras e deixaram mais de 100 mil desabrigados, em todo o estado.

Secretário diz que plano não estava engavetado

O secretário municipal de Comunicação Social, Jean Valério, procurou a TRIBUNA DO NORTE por telefone e explicou que o Plano Municipal de Redução de Riscos, entregue à Prefeitura de Natal em outubro de 2008, foi utilizado durante todo o ano passado e em 2009 como base da estratégia do poder municipal para conviver com as chuvas do período e que, ao mesmo tempo, o Plano vem sendo atualizado durante todo esse tempo.

“Informações sobre áreas de risco mudam rapidamente e o Plano não ficou engavetado durante esses dois anos. Atualizamos as informações e agora estamos em busca dos recursos federais para dar prosseguimento às obras”, explicou Jean Valério.

O Plano Municipal de Redução de Riscos, produzido pela empresa Acquatool, lista 23 locais com risco máximo por motivos diversos, como estarem em encostas, em áreas de alagamentos ou de erosão. Isso significa que 31% das áreas de risco são prioridade por estarem sujeitas a danos maiores e imediatos. Dos 29 mil prédios ameaçados, nove mil estão localizados nessas áreas de risco máximo. Para sanar os problemas de todas essas áreas seria necessário um investimento de mais de R$ 38 milhões. Para todo o plano, seriam necessários investimentos de R$ 128 milhões para Natal.

Efetivo tem menos de 20% do número ideal

O Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte conta com um efetivo de 660 integrantes, menos de 20% do ideal. “Mesmo com essa carência de pessoal, iremos assumir a Defesa Civil”, assegura o comandante Elizeu Dantas. A estimativa feita pela corporação é que há uma necessidade de mais de 3 mil novos bombeiros.

O efetivo total necessário seria de 3.850. A ONU preconiza que, para cada mil habitantes, deva haver no mínimo um bombeiro. Apesar de a população do estado ser de 3 milhões, o cálculo de 3.850 leva em conta também a necessidade de pessoal para a área administrativa.

A imensa diferença entre o real e o ideal tornará necessária a realização de novos concursos, mas não há prazos para o lançamento das seleções, muito menos para alcançar o objetivo de chegar aos 3.850 bombeiros. No entanto, o comandante afirma que a governadora já autorizou a elaboração de um projeto de interiorização. O objetivo é fixar equipes em todos os municípios potiguares com mais de 30 mil moradores (16 de acordo com o Censo 2010).

Atualmente, há bases apenas em Natal, Mossoró, Caicó e Pau dos Ferros. Por outro lado, Elizeu Dantas afirma que não há problema com equipamentos na corporação, porém o mesmo não pode ser dito com relação aos veículos. “Temos problema na manutenção de equipamentos grandes, como os carros de combate”.

Dnocs diz que manutenção de barragens só após o inverno

O trabalho de recuperação da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, realizado Dnocs, não se estenderá aos demais reservatórios sob a responsabilidade do órgão, pelo menos no início deste ano. De acordo com o diretor técnico, João Guilherme de Souza Neto, após o período chuvoso é que será avaliada a necessidade de obras nos demais açudes, mas atualmente nenhum possui sua estrutura comprometida. “As barragens não oferecem riscos, o trabalho que fazemos, de manutenção, é apenas um trabalho de rotina”, destacou.

Dependendo das condições de cada reservatário, o Dnocs irá elaborar projetos e encaminhar ao Governo Federal a solicitação dos recursos necessários às obras, que dependerão ainda de licitação para serem executadas.

Na barragem Armando Ribeiro Gonçalves, os serviços se iniciaram no final de 2009 e incluem fechamento de erosões e a limpeza do sistema de drenagem. Segundo João Guilherme, a manutenção tem de ser realizada sempre fora do período chuvoso. Ele afirma que a estrutura da Armando Ribeiro é segura, apesar do temor criado por conta das erosões registradas na parede do reservatório, entre 2009 e 2010.

As maiores já foram fechadas e outras, estão sendo tapadas. 

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/lagoas-ou-depositos-de-lixo/170653

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