Ele olhou para o relógio e viu que já estava na hora de ir pra casa. Três horas da madrugada, em ponto. Não havia ninguém na Avenida Abel Cabral, em Nova Parnamirim. Tranquilo, conciso, pilotava devagar. De repente uma moto surge em sua direção. Dois indivíduos se aproximam. Receoso e desconfiado ele breca. Os homens também. O que acontece em seguida muda para a sempre a vida do sargento Ciro de Lima Morais. Além dele, foram ao chão seus 27 anos de carreira na PM, todos dedicados ao Batalhão de Operações Policiais Especiais - o Bope.
“Um deles percebeu o cabo da pistola por baixo da minha camiseta e gritou que eu estava armado. O outro, que deu a volta por trás de mim, atirou nas minhas costas. Senti meu corpo ser arremessado uns três metros. Já não sentia mais as minhas pernas. Tentei sacar a pistola e não tinha força nem para levantar o braço”, contou.
O relato do sargento abrevia o que aconteceu na madrugada do dia 08 de janeiro deste ano, quando os bandidos se aproximaram e anunciaram o assalto. As lágrimas que ele ainda derrama, ao se recordar que quase perdeu a vida, também resumem o tormento de, talvez, nunca mais voltar a andar. A cadeira de rodas que usa para se locomover, Ciro ganhou dos amigos. Custou R$ 1.375,00.
As três caixas de remédio que precisa tomas de três em três dias para suportar as dores que ainda sente no corpo inteiro custam R$ 194,00. Ainda tem as despesas com as sessões diárias de fisioterapia numa faculdade particular, a gasolina que os irmãos gastam para tirá-lo de casa, as fraudas geriátricas, a alimentação diferenciada. Tudo sai do bolso. Tudo é caro demais.
Nesta semana, mais precisamente nesta quinta-feira, 24, Ciro jogará suas ultimas fichas em Fortaleza-CE. Está de viagem marcada e com avaliação já agendada no Sarah Kubitschek. Porém, para chegar ao hospital, e para poder dar sequência ao tratamento, será preciso comprar passagens. Haja ajuda, haja solidariedade. Peque grana.
E a Polícia Militar, o que faz? E o Estado, vai arcar com o que? Com nada. Mão há indenização, seguro de vida ou ressarcimento pelas despesas médicas. Não há nada. Não há acompanhamento clinico depois que o policial recebe alta do hospital, não existe orientação psicológica e muito menos consulta ao psiquiatra. A omissão é total.
“Só não enlouqueci por causa da minha família, dos meus amigos. Só não pedi baixa da polícia porque falta pouco tempo para me aposentar. Se eu estivesse no inicio da minha carreira, com certeza teria deixado a PM”, afirmou o militar para depois emendar: “As pessoas que existem dentro da Polícia Militar compensam qualquer decepção com a corporação. Infelizmente não posso dizer o mesmo do Estado, que para mim é apenas uma máquina mal usada.
Fonte: Anderson Barbosa, do Novo Jornal.
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