Algumas ações erradas têm tirado a vida de inocentes e colocado a polícia em xeque. PM mostra como deve ser feita abordagem sem risco de morte para vítimas.
Nossa polícia é bem preparada?
Saiba mais
Policiais costumam dizer: o que muitos levam horas para julgar, nós temos que decidir em frações de segundo. Na semana passada, o Brasil acompanhou uma decisão errada durante uma abordagem policial que resultou na morte do menino João Roberto, de apenas 3 anos, no Rio de Janeiro. Diante disso, levantou-se um questionamento na sociedade: nossa polícia é bem preparada?
Neste primeiro semestre, duas vidas de inocentes também foram ceifadas por erros de abordagem cometidos por policiais do Rio Grande do Norte. O primeiro deles aconteceu durante o carnaval da cidade de Macau, quando um PM, que não estava de serviço, envolveu-se em uma confusão com dois outros rapazes, sacou sua arma e atirou em direção à multidão.
A estudante Cínthia Luciana Reis Queiroz, 13, foi atingida na cabeça e morreu na hora, no dia 6 de fevereiro. O outro caso aconteceu no dia 4 de maio, quando três homens entraram em um mercadinho para assaltar, em Parnamirim, e, na fuga, um deles levou a jovem Evânia da Silva Alves, 17, como refém. O assaltante Ronaldo Santana atirou contra policiais militares que revidaram, mesmo sabendo da presença da refém no veículo do acusado. Evânia foi atingida por três tiros e morreu.
Nesses dois casos, as ações dos PMs foram erradas? Para a própria polícia, sim. Na sexta-feira da semana passada (4), o Comando da Polícia Militar confirmou a expulsão do soldado Ednaldo Manoel do Nascimento, que atirou em Cínthia. Quanto aos policiais Glauber Evangelista Candido Barbosa e Albanísio Silva de Paiva, ambos foram indiciados por homicídio pela morte de Evânia da Silva.
Neste primeiro semestre, duas vidas de inocentes também foram ceifadas por erros de abordagem cometidos por policiais do Rio Grande do Norte. O primeiro deles aconteceu durante o carnaval da cidade de Macau, quando um PM, que não estava de serviço, envolveu-se em uma confusão com dois outros rapazes, sacou sua arma e atirou em direção à multidão.
A estudante Cínthia Luciana Reis Queiroz, 13, foi atingida na cabeça e morreu na hora, no dia 6 de fevereiro. O outro caso aconteceu no dia 4 de maio, quando três homens entraram em um mercadinho para assaltar, em Parnamirim, e, na fuga, um deles levou a jovem Evânia da Silva Alves, 17, como refém. O assaltante Ronaldo Santana atirou contra policiais militares que revidaram, mesmo sabendo da presença da refém no veículo do acusado. Evânia foi atingida por três tiros e morreu.
Nesses dois casos, as ações dos PMs foram erradas? Para a própria polícia, sim. Na sexta-feira da semana passada (4), o Comando da Polícia Militar confirmou a expulsão do soldado Ednaldo Manoel do Nascimento, que atirou em Cínthia. Quanto aos policiais Glauber Evangelista Candido Barbosa e Albanísio Silva de Paiva, ambos foram indiciados por homicídio pela morte de Evânia da Silva.
Capitão Marinho: "Assim como o bandido, o policial também sai de dentro da sociedade".
Para o capitão da Polícia Militar Antônio Marinho da Silva, responsável pela elaboração do Manual Básico de Técnicas de Abordagem Policial, não é fácil estar em uma situação de grande tensão com uma arma na mão e ter que decidir o que fazer em poucos segundos. "Em um momento como esse, o policial tem que pensar rápido e analisar o risco que aquela situação representa para a vida do refém, para sua vida e também do criminoso. No entanto, o uso da força letal (arma de fogo) sempre deve ser o último recurso de uma abordagem policial".
O Manual criado pelo capitão em 2007 é utilizado durante a formação de soldados da Polícia Militar. No curso, os novos PMs aprendem na prática o que está no papel. São seis meses de treinamento, onde os cadetes passam por teste psicológico e físico e são orientados a desenvolver três fases durante uma abordagem: o planejamento mental, o plano da ação e a execução.
No entanto, apesar de receber um treinamento voltado ao exercício da teoria, o próprio capitão Marinho ressalta que na prática a história é um pouco diferente. "Assim como o criminoso, o policial também sai de dentro da sociedade. Quem trabalha na polícia tem seus direitos e deveres. Porém, a personalidade de cada pessoa não muda em seis meses. A pessoa pode ser aprovada no concurso da PM, passar nos treinamentos, mas, se ela tem em si um caráter questionável, como o perfil de uma pessoa agressiva, isso vai para as ruas".
Denúncias
Para o ouvidor da Polícia do Rio Grande do Norte, Geraldo Wanderley, o problema de uma abordagem mal feita está na falta de orientação da própria população. Pensando nisso, a Ouvidoria desenvolveu uma campanha para educar a sociedade e também os policiais para que esse contato não seja feito de maneira truculenta. "A sociedade não tem o conhecimento de como devem trabalhar os policiais e, por isso, a polícia termina trabalhando do jeito que quer", disse.
Geraldo Wanderley informa que, atualmente, as denúncias mais comuns junto ao órgão são de agressões físicas e abuso de autoridade. "Temos relatos de policial ter atirado contra a pessoa mesmo depois de ela estar algemada e colocada no chão. Contudo, a sociedade não reivindica, não denuncia e não exige que se tomem providências. Então, nossa perspectiva de gerar a discussão e o conhecimento da ação policial é na esperança de que a sociedade reaja à atuação equivocada, errada, ilegal e não ética da polícia".
O Manual criado pelo capitão em 2007 é utilizado durante a formação de soldados da Polícia Militar. No curso, os novos PMs aprendem na prática o que está no papel. São seis meses de treinamento, onde os cadetes passam por teste psicológico e físico e são orientados a desenvolver três fases durante uma abordagem: o planejamento mental, o plano da ação e a execução.
No entanto, apesar de receber um treinamento voltado ao exercício da teoria, o próprio capitão Marinho ressalta que na prática a história é um pouco diferente. "Assim como o criminoso, o policial também sai de dentro da sociedade. Quem trabalha na polícia tem seus direitos e deveres. Porém, a personalidade de cada pessoa não muda em seis meses. A pessoa pode ser aprovada no concurso da PM, passar nos treinamentos, mas, se ela tem em si um caráter questionável, como o perfil de uma pessoa agressiva, isso vai para as ruas".
Denúncias
Para o ouvidor da Polícia do Rio Grande do Norte, Geraldo Wanderley, o problema de uma abordagem mal feita está na falta de orientação da própria população. Pensando nisso, a Ouvidoria desenvolveu uma campanha para educar a sociedade e também os policiais para que esse contato não seja feito de maneira truculenta. "A sociedade não tem o conhecimento de como devem trabalhar os policiais e, por isso, a polícia termina trabalhando do jeito que quer", disse.
Geraldo Wanderley informa que, atualmente, as denúncias mais comuns junto ao órgão são de agressões físicas e abuso de autoridade. "Temos relatos de policial ter atirado contra a pessoa mesmo depois de ela estar algemada e colocada no chão. Contudo, a sociedade não reivindica, não denuncia e não exige que se tomem providências. Então, nossa perspectiva de gerar a discussão e o conhecimento da ação policial é na esperança de que a sociedade reaja à atuação equivocada, errada, ilegal e não ética da polícia".
"Precisamos é de uma polícia cidadã", afirma Geraldo Wanderley.
O ouvidor destacou ainda que são comuns as informações de operações truculentas da polícia. No entanto, na maioria dos casos, a Ouvidoria não pode oficializar a denúncia porque a família não autoriza. Geraldo Wanderley frisou que isso acontece pelo fato de boa parte das pessoas que sofrem abusos estarem presas e, temendo pela vida, os parentes preferem não levar o caso adiante.
"O que nós precisamos é de uma polícia cidadã, que atue dentro de padrões que obedeçam à lei, à técnica que eles aprendem na formação e à ética que se volta para o respeito e a dignidade da pessoa humana. Se isso não acontece na prática não é porque a polícia não conhece e sim porque ela não incorpora uma visão humanística de respeito ao cidadão".
De acordo com o ouvidor, a maioria dos policiais sabe como fazer uma abordagem correta, mas, se não o fazem é porque não tem isso como um valor a ser seguido. Indo de encontro ao que o capitão Marinho falou, Geraldo Wanderley diz: "A formação que eles recebem, apesar de ensinar todas as técnicas, não chega a ser suficiente para modificar a conduta e o comportamento de um policial".
A campanha da Ouvidoria sobre abordagem policial teve início no ano passado. Geraldo informou que o órgão vem distribuindo cartilhas e folders a respeito do tema. Em um dos materiais, o cidadão é orientado a, em caso de abordagem, manter a calma, deixar as mãos visíveis, não fazer movimentos bruscos e não discutir com o soldado da polícia.
O capitão Antônio Marinho reforça as informações apresentadas nos folders da Ouvidoria e destaca que todo policial é orientado a respeitar as pessoas durante uma abordagem. "A gente sempre diz que ou se prende um bandido ou se faz um amigo. Muitas vezes, a pessoa que passa por uma abordagem fica chateada ou se exalta. Porém, ela não vê que aquilo é para o próprio bem dela. Então, nós sempre pedimos que após a revista, se nada for encontrado, o PM deve pedir desculpa pelo transtorno, explicar que aquilo é uma operação para localizar algum suspeito e agradecer ao cidadão".
Simulação de abordagem a veículo:
Foto 1 - Viatura com três policiais encosta no veículo suspeito pelo lado do motorista do carro a ser abordado. Os policiais descem com arma em mãos e, através de um megafone, inicia o contato com os suspeitos.
Foto 2 - Policiais pedem que motorista e passageiro coloquem as mãos para fora. Em seguida, a chave do veículo abordado deve ser colocada no teto do carro.
Foto 3 - Os ocupantes abrem as portas e descem com as mãos na cabeça, ficando de costa para os policiais na parte de trás do carro.
Foto 4 - Enquanto um policial faz a cobertura, o outro se aproxima dos suspeitos para realizar a revista. O dedo do policial deve permanecer fora do gatilho da arma.
Foto 5 - Após revistar os suspeitos, o policial vai até o veículo para verificar se não há mais alguém dentro ou se há armas.
Foto 6 - Última parte do carro a ser revistada é o porta-malas. Um policial abre enquanto outro aponta a arma. Isso acontece porque no compartimento pode haver algum outro suspeito ou até mesmo uma vítima de seqüestro.
Capitão Marinho explicou que essa simulação representa o procedimento padrão adotado por policiais nas ruas de Natal. Ele ressaltou que em nenhum momento o PM deve usar de truculência ou imprudência. Em caso de durante uma abordagem a polícia identificar que existem vítimas dentro de um veículo, como aconteceu em Parnamirim, o procedimento a ser adotado seria: conter (furando os pneus do carro), isolar a área e iniciar negociação com os criminosos.
"O que nós precisamos é de uma polícia cidadã, que atue dentro de padrões que obedeçam à lei, à técnica que eles aprendem na formação e à ética que se volta para o respeito e a dignidade da pessoa humana. Se isso não acontece na prática não é porque a polícia não conhece e sim porque ela não incorpora uma visão humanística de respeito ao cidadão".
De acordo com o ouvidor, a maioria dos policiais sabe como fazer uma abordagem correta, mas, se não o fazem é porque não tem isso como um valor a ser seguido. Indo de encontro ao que o capitão Marinho falou, Geraldo Wanderley diz: "A formação que eles recebem, apesar de ensinar todas as técnicas, não chega a ser suficiente para modificar a conduta e o comportamento de um policial".
A campanha da Ouvidoria sobre abordagem policial teve início no ano passado. Geraldo informou que o órgão vem distribuindo cartilhas e folders a respeito do tema. Em um dos materiais, o cidadão é orientado a, em caso de abordagem, manter a calma, deixar as mãos visíveis, não fazer movimentos bruscos e não discutir com o soldado da polícia.
O capitão Antônio Marinho reforça as informações apresentadas nos folders da Ouvidoria e destaca que todo policial é orientado a respeitar as pessoas durante uma abordagem. "A gente sempre diz que ou se prende um bandido ou se faz um amigo. Muitas vezes, a pessoa que passa por uma abordagem fica chateada ou se exalta. Porém, ela não vê que aquilo é para o próprio bem dela. Então, nós sempre pedimos que após a revista, se nada for encontrado, o PM deve pedir desculpa pelo transtorno, explicar que aquilo é uma operação para localizar algum suspeito e agradecer ao cidadão".
Simulação de abordagem a veículo:
Foto 1 - Viatura com três policiais encosta no veículo suspeito pelo lado do motorista do carro a ser abordado. Os policiais descem com arma em mãos e, através de um megafone, inicia o contato com os suspeitos.
Foto 2 - Policiais pedem que motorista e passageiro coloquem as mãos para fora. Em seguida, a chave do veículo abordado deve ser colocada no teto do carro.
Foto 3 - Os ocupantes abrem as portas e descem com as mãos na cabeça, ficando de costa para os policiais na parte de trás do carro.
Foto 4 - Enquanto um policial faz a cobertura, o outro se aproxima dos suspeitos para realizar a revista. O dedo do policial deve permanecer fora do gatilho da arma.
Foto 5 - Após revistar os suspeitos, o policial vai até o veículo para verificar se não há mais alguém dentro ou se há armas.
Foto 6 - Última parte do carro a ser revistada é o porta-malas. Um policial abre enquanto outro aponta a arma. Isso acontece porque no compartimento pode haver algum outro suspeito ou até mesmo uma vítima de seqüestro.
Capitão Marinho explicou que essa simulação representa o procedimento padrão adotado por policiais nas ruas de Natal. Ele ressaltou que em nenhum momento o PM deve usar de truculência ou imprudência. Em caso de durante uma abordagem a polícia identificar que existem vítimas dentro de um veículo, como aconteceu em Parnamirim, o procedimento a ser adotado seria: conter (furando os pneus do carro), isolar a área e iniciar negociação com os criminosos.
*Matéria publicada no jornal Nasemana, em 12/07/2008.
http://www.nominuto.com/noticias/policia/com-arma-na-mao-policiais-decidem-entre-a-vida-e-a-morte/18982/
Nenhum comentário:
Postar um comentário