sábado, 18 de fevereiro de 2012

O POLICIAL COMO CIDADÃO

O policial, civil ou militar, é, antes de tudo, um cidadão. Como qualquer um, seu cotidiano é feito de relações pessoais, afetos e desavenças, esperanças, angústias e contas a pagar. Já há muito tempo, as condições de trabalho destes servidores estão a exigir uma atenção especial dos governos e da sociedade. Expostos a uma rotina marcada pelas mais insondáveis tensões; convivendo, de uma forma ou de outra, com o frágil equilíbrio entre a vida e a morte; submetidos, via de regra, a uma estúpida sobrecarga de trabalho, os policiais brasileiros recebem salários de fome. Os baixos níveis de remuneração, particularmente aqueles praticados nos escalões inferiores da Brigada e da Polícia, caracterizam uma situação rigorosamente insustentável e conduzem a segurança pública à beira de um colapso. Já há alguns anos tenho assinalado que os desníveis salariais existentes no interior das corporações policiais, somados à ausência de investimentos em segurança no RS, estavam por ameaçar as próprias noções de hierarquia e disciplina e haveriam de construir uma crise sem precedentes. Ao que tudo indica, chegamos a ela.
As tarefas de policiamento são imprescindíveis e indelegáveis. Trata-se, bem entendido, de uma das atribuições essenciais do Estado. A polícia que temos, por certo, está muito longe daquela que desejamos. Sua formação é precária e, em largos aspectos, distanciada de um conceito moderno de policiamento concebido como afirmação e garantia dos Direitos Humanos. A herança de décadas de autoritarismo ainda se faz presente no interior das corporações policiais e os inúmeros casos de tortura, espancamentos e abusos de autoridade o comprovam. Tais desvios de conduta e mais as práticas de corrupção terminam por comprometer qualquer padrão de eficácia e, mesmo quando punidos, atentam contra a imagem das instituições. Como se não bastasse, nossa polícia não conta com os mais básicos recursos científicos e tecnológicos de que necessita. Suas carências em áreas vitais como informação, comunicação e armamento, para citar algumas, são mais do que conhecidas. Todas estas debilidades, confrontadas ainda com o avanço da criminalidade - notadamente com o incremento do crime organizado, agravam as condições de policiamento em nosso país.
Os efeitos já são há muito sentidos pelo conjunto dos cidadãos. Ocorre que também os policiais são vitimados pela mesma insegurança que nos aflige. Obrigados a garantir a nossa segurança, os policiais trabalham inseguros. Voltados à proteção de nossas famílias, exige-se deles que não zelem por suas próprias. Lembrados quando se trata de proteger a propriedade dos mais favorecidos, os policiais nada possuem. São estas condições inaceitáveis que emprestam aos movimentos reivindicatórios em curso plena legitimidade. Por isso, cabe à sociedade apoiar as demandas das categorias policiais e ao governo atendê-las, urgentemente.
Marcos Rolim - 06/07/97


http://www.rolim.com.br/cronic23.htm 

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