Nos Cursos de Formação de Policiais Militares, sejam para a formação
do futuro soldado, sargento ou oficial, instrutores ensinam certas
técnicas de abordagem a pé, a veículos, a ônibus e a edificação a fim de
serem empregadas, quando houver necessidade, no cotidiano de sua
atuação. Instruções marcadas pelas orientações minuciosamente
detalhadas, categoricamente enfatizadas pelos instrutores através do
estudo de ocorrências a nível local, nacional ou até mesmo
internacional. Geralmente, analisamos os erros dos outros e
correlacionamos com a técnica ensinada para nos servir como lição.
Instrutores nos advertem: não façam isso, não façam aquilo, foi
precipitação, foi imprudência e uma série de explicações a fim de
identificar erros sob a ótica do emprego das técnicas policiais
militares. Diante disso, deveríamos observar, ao menos, os princípios
básicos de uma abordagem policial no desempenho das atividades de
Policiamento Ostensivo. Mas, essa preocupação é demonstrada por parte de
algumas guarnições e em casos raros.
Em uma certa Operação Policial, uma tal guarnição com quatro homens,
embarcada em uma viatura, estava realizando ronda em certo local, quando
resolveu abordar um veículo suspeito e como foi ensinado no Curso de
Formação, o Comandante da guarnição seguindo metodicamente o que lhe foi
ensinado e o que é previsto nos Manuais de Técnicas e Táticas Policiais
Militares ordenou ao motorista do veículo suspeito: “Motorista desligue
o veículo, retire a chave do mesmo e a coloque sobre o teto, saia
lentamente de costas com as mãos na cabeça…!”. Assim a guarnição
realizou todos aqueles procedimentos que chamamos “procedimentos
padrão”, observando os princípios da abordagem até a sua conclusão. Ao
final agradeceu e explicou ao cidadão o motivo do seu veículo ter sido
abordado, já que não foi encontrado nenhum objeto ilícito e o cidadão,
além de sentir-se constrangido com todo aquele procedimento, não estava
praticando nenhum tipo de crime.
Em outro local, na mesma Operação Policial, outra guarnição com
quatro homens, embarcada em viatura, ao abordar um veículo demonstra
total descompromisso com as questões técnicas e táticas Policiais
Militares. Não se preocupa com a aplicação dos procedimentos e
princípios de abordagem, contudo, apesar das carências e deixando de
lado princípios indispensáveis, a exemplo da segurança, que é
extremamente importante não somente para a guarnição, mas também para o
abordado e os transeuntes que passam no local, consideração feita em
qualquer polícia no mundo, a abordagem ao veículo é finalizada sem
transtornos, sem alterações. Quanto ao cidadão abordado, nada teve a
reclamar, já que a guarnição o deixou bastante à vontade para
movimentar-se, não colocou as mãos na cabeça e apenas levantou a camisa
mostrando que não portava nenhuma arma “na cintura”.
Diante desses dois exemplos hipotéticos, fica a pergunta: qual foi a
guarnição que atuou corretamente? Logicamente a resposta da maioria será
a guarnição do primeiro exemplo. Isso em virtude desta ter aplicado os
conhecimentos técnico-policiais adquiridos na época do curso de
formação. No entanto, apesar da resposta da maioria, sabemos que, em
virtude da tendência natural do ser humano em relaxar naquilo que faz de
maneira constante, e por geralmente o abordado não esbanjar nenhuma
reação, a guarnição acaba negligenciando princípios indispensáveis na
abordagem. É nesse momento que se abre a porta para que a mídia
sensacionalista entre em ação diante de algum erro policial que possa
ocorrer. Se não existir um instrumento ou mecanismo para admoestar e
orientar constantemente as guarnições antes de saírem para o serviço de
policiamento, certamente ele se desenvolverá de maneira semelhante ao
segundo exemplo.
Sob a ótica do cidadão desprovido de conhecimentos técnicos
policiais, responderá que o correto seria o segundo exemplo. É obvio.
Ninguém gosta de ser incomodado. Porém, quando ocorre um erro policial
durante uma abordagem na qual a guarnição não encontra uma arma ilegal
que estava na posse do abordado, e o mesmo pratica um roubo ou homicídio
depois de alguns minutos com a arma que a guarnição não encontrou, em
virtude de não proceder de acordo com os procedimentos técnicos de
abordagem, esse mesmo cidadão contribuirá com as críticas à ação
policial, taxando-nos de amadores e irresponsáveis.
Além disso, o proceder nas abordagens inobservando os procedimentos
técnicos, expõe a guarnição a uma série de riscos, tornando-a mais
vulnerável a uma reação por parte de um possível criminoso e a desgastes
psicológicos na comprovação da legitimidade da ação no que diz respeito
a questões judiciais.
Relembro-me de uma conversa com um colega, bastante ligado às
questões técnicas policiais, que dizia o quanto é inconveniente fazer
parte de uma guarnição descompromissada com as técnicas de abordagem, ao
ponto de, aos poucos, sentir-se pressionado a se adequar à maneira de
abordar da guarnição para evitar uma indisposição com a mesma. Dizia que
fazia parte de uma guarnição do Pelotão Especial que de “especial”
somente ostentava o nome. Ficava evidente a carência técnica policial no
momento das abordagens.
Assim, diante do exposto, fica a indagação: aonde devem ser feitos os
ajustes? O que precisa ser ajustado? Formação Ou interligar as técnicas
de abordagem ao interesse e conveniência da sociedade, causando-lhe o
mínimo de desconforto, sem a necessidade de colocar as mãos na cabeça,
sem a necessidade de sair de dentro do carro e tampouco revistar o seu
veículo, seu corpo e suas vestes?
Seja qual for a resposta, seja qual for a saída diante dos diversos
caminhos estabelecidos dentro desse labirinto que chamamos Segurança
Pública, devemos nos conscientizar que é extremamente necessário
demonstrar perícia, qualificação e profissionalismo no desempenho das
atividades policiais. É isso que irá nos diferenciar do senso comum, nos
imunizará dos problemas judiciais e consubstanciará a nossa condição
especial de Policial Militar.
Marcílio Reis serviu 05 anos no Corpo de
Fuzileiros Navais, ingressou em 2005 na Polícia Militar da Bahia como
Soldado e atualmente é Aspirante a Oficial lotado na 64ª CIPM-Feira de
Santana-BA
In: http://abordagempolicial.com/2011/08/a-importancia-do-emprego-da-tecnica-policial/
Nenhum comentário:
Postar um comentário