À espera da tão prometida revitalização, a Ribeira vai resistindo ao tempo com o seu casario antigo e a teimosia de alguns aficionados da cultura e da boêmia. Quinta e sexta-feiras são os dias de maior agito de um bairro que viveu, à meia noite da última quinta-feira, cenas de um filme de bang-bang americano. Com a morte, a tiros, de dois operários de da construção civil, deixando ainda dois feridos, um operário e uma universitária que saía de um evento quando voltava para o seu carro, na rua Câmara Cascudo, local do duplo homicídio.
Os crimes ocorreram depois que as vítimas chegaram de um bar em Igapó, onde teriam se envolvido numa discussão e tinham parado para beber numa barraca próximo ao Espaço Cultural do Buraco da Catita, situado na travessa José Alexandre Garcia. O bancário José Marcelo de Souza é um dos freqüentadores do Buraco da Catita e acredita que esse “foi um fato isolado”, que em nada vai “influenciar o público que conhece o bar e a Ribeira”, porque, segundo ele, “a violência está no mundo e no Brasil todo”.
A TRIBUNA DO NORTE deu uma volta no quarteirão “cultural” da Ribeira e não viu um policial sequer fazendo a ronda da área, embora na noite de anteontem, havia uma certa agitação por causa de um evento que estava ocorrendo no Teatro Alberto Maranhão (TAM): “Aqui não falta guarda não, o prédio público não pode ficar abandonado”, dizia o cabo Itar Índio da Silva, da guarda patrimonial do Estado que se reveza com outro militar reformado na tarefa de vigiar o TAM, tenha ou não alguma peça teatral.
O músico e agitador cultural Camilo Lemos disse que já encaminhou ofício para as autoridades públicas, do município e do estado, pedindo apoio à realização dos eventos na Ribeira, como forma de prevenir coisas como a que ocorreram no meio da semana. Segundo ele, as vítimas do atentando “não eram frequentadoras” da Casa, mas se tivesse um ordenamento das barracas que ficam próximas ao Buraco da Catita, certamente o incidente não teria acontecido ali, numa área onde circulavam tantas pessoas, embora no momento dos tiros, o público já tivesse quase todo se retirado.
“A Ribeira está entregue”, avalia Camilo, que informou já feito pedido à prefeitura para ordenar a questão dos barraqueiros e ao comandante da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo, uma guarnição para fazer a ronda nos dois dias de abertura do Buraco da Catita.
O artista Galvão Filho teme que se não houver um apoio à revitalização da Ribeira, como hoje é feito no Recife Velho, na capital pernambucana, vai ocorrer a mesma coisa que ocorreu com a rua Chile, quando se tentou fazer dela um corredor cultural, que hoje praticamente inexiste. Para ele, o Buraco da Catita, é um espaço “underground” que faltava a Natal e se nada for feito, vai se acabar como outras que também morreram em Natal. “É preciso haver apoio e organização do poder público, não dá para fazer depois”, apelou o músico.
VIATURA
A presença de viaturas da Polícia Militar, especialmente no turno da noite, no bairro da Ribeira, está quase sempre associada às eventuais demandas que chegam ao Itep ou quando há eventos de grande porte, afirmam os comerciantes e alguns frequentadores do bairro.
Entre as observações de quem freqüenta a Ribeira, seja à noite ou durante o dia, é que deveria haver um policiamento ostensivo mais intenso. Especialmente com uma base — trailer ou mesmo duplas de policiais a pé ou com apoio de viatura.
Criminalidade na Ribeira é baixa
O bairro boêmio da Ribeira, localizado em área portuária e cercado por repartições pública e financeiras, registra baixos índices de criminalidade, na avaliação do coronel Edmundo Clodoaldo Silva Júnior, do 1º Batalhão de Polícia Militar da Ribeira. Segundo ele, casos de homicídios - como ocorrido nas proximidades do bar Buraco da Catita, esta semana - são fatos isolados.
Questionado sobre as solicitações por parte de comerciantes e moradores da área, para que a polícia esteja mais presente, o coronel informa que estas não chegaram ao Batalhão, sendo atendidas as que são enviadas.
“A Polícia Militar trabalha em cima de números e não em cima de vontade própria. E a central de informações, que não pode ser fraudada, não registra altos números na Ribeira e Rocas. Ao contrário, a criminalidade é baixa”, frisa o comandante. “Inclusive, ontem (sexta-feira) foram enviadas três guarnições ao Buraco da Catita”, acrescenta.
O bairro é assistido por duas guarnições da polícia militar, além da viatura do oficial de serviço, que faz ronda 24 horas. Na região, pontos-bases são montados nas proximidades da Codern, Receita Federal, Itep, Natal Card, Comércio das Rocas e Mercado do Peixe. O reforço com uso de cavalaria ou motos é dispensável, segundo coronel Silva Júnior, devido as ações realizadas nas áreas por destacamentos da Rocam, BPChoque e Bope.
“O efetivo é suficiente para darmos cobertura, inclusive devido a logística trabalhada”, garante.
Todas as operações realizadas pelo 1º BPMR, três vezes por semana, partem do eixo Ribeira-Rocas-Santos Reis, antes de irem aos bairros a serem investigados.
Embora a conhecida movimentação de rotina dos bares, sobretudo no fim de semana, o coronel orienta que para a realização de eventos maiores, há a necessidade de comunicação ao batalhão, para garantir o reforço policial.
Sobre o autor do duplo homicídio na madrugada do dia 2, no Buraco da Catita, as investigações continuam por parte da Polícia Civil. Ainda não há informações sobre identidade e paradeiro do assassino.
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