quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sargento Regina em ENTREVISTA À TRIBUNA DO NORTE


Anna Ruth Dantas – Repórter
Pela primeira vez desde que foram publicados 18 vídeos no YouTube, nos quais a vereadora Sargento Regina (PDT) aparece afirmando que comercializou votos e apoios, ela falou para a imprensa. Em entrevista exclusiva à TRIBUNA DO NORTE, Sargento Regina confirmou que trocou o voto em Dickson Nasser para presidente da Câmara Municipal por R$ 10 mil em cargos na Mesa Diretora.
A vereadora admitiu que os 14 cargos comissionados lotados no gabinete dela e ainda os três que foram escolhidos como nomeação da Mesa Diretora contribuem “voluntariamente” para compor o salário de outras pessoas que trabalham com ela. “Onde está corrupção nisso aí? Nunca ouvi dizer que propina você recolhesse imposto de renda. Existe um acordo”, diz a vereadora Sargento Regina.
Ela negou que tenha declarado apoio ao senador José Agripino Maia em troca de dinheiro, mas confirmou que os 5.498 votos obtidos na eleição para Câmara Municipal de Natal são usados como “argumento” para conseguir estrutura da campanha de deputada estadual, cargo ao qual concorre pelo PDT.
Em um escritório de advogacia, no bairro de Lagoa Nova, acompanhada de dois advogados e um assessor, Sargento Regina concedeu uma entrevista de 30 minutos à reportagem da TRIBUNA DO NORTE. Veja os principais trechos da entrevista:
A senhora confirma que são suas a imagem e voz dos vídeos do YouTube?

Sem dúvida. O que a gente precisa deixar claro é o motivo da reunião. Nós já tínhamos uma situação conflitante entre a diretoria da Associação dos Cabos e Soldados, que já vinha fazendo uma pressão muito grande por espaços, cargos e inclusive tentando denegrir minha imagem no Orkut. Tudo isso no ano passado. A gente tem tudo como comprovar. Eles colocavam (no Orkut) que eu tinha me vendido. Eles já tinham feito esse trabalho contrário e criaram uma suposta candidatura (a deputado federal) apoiada por eles, mas não foi referendada pele tropa. O entendimento da categoria é que essa é a oportunidade para gente conquistar uma vaga na Assembleia Legislativa. Vivemos única e exclusivamente de uma receita legal, mandada para dentro de um gabinete, que é de R$ 17 mil todo mês. A gente trabalha dentro da previsão legal, com prestação de contas e tudo. O espaço de cargos dentro de um gabinete também é muito pouco, são 14 cargos. Eu tenho 14 pessoas que trabalham comigo, mas em um total de 30. Eu tenho mais de 30 pessoas que constroem comigo esse trabalho, tenho segmentos, tenho movimentos sociais, classe trabalhadora, tenho categoria, tenho assistência que dou desde 2003 a companheiros com problemas de saúde. É um grupo muito grande de pessoas que no início do mandato eu reuni e mostrei tranquilamente que não tinha como abrigá-los. Eu mostrei que tínhamos 14 cargos e possibilidade de negociar com o presidente da Casa (vereador Dickson Nasser). Disse isso na reunião de grupo (gravada no YouTube). Seriam cargos dentro da casa (Mesa Diretora) para abrigar algumas pessoas técnicas, de trabalho, dentro do nosso mandato. E fiz isso tranquilamente. Os R$ 10 mil tão falados foram R$ 10 mil em espaços (cargos). Eu tenho R$ 10 mil em espaços.

A senhora se refere a R$ 10 mil, além dos R$ 21 mil em cargos comissionados do seu gabinete?

Além dos cargos comissionados. Eu digo no vídeo que negociei para mim, mas para eu abrigar o meu povo.

Mas a senhora fala (no vídeo) em comprar um apartamento com os R$ 10 mil…

É até hilário. Aí eu ironizo porque, na verdade, a conversa tem mais de 3 horas. Foi todo um contexto (para gravação), montado e armado para no futuro fazer exatamente isso, tendo em vista a gente não ter cedido a pressão da candidatura do cabo Jeoas (presidente da ACS). Aquela questão que a gente fala de R$ 2 mil (de salário para um assessor), onde eu digo que um é R$ 1.000, R$ 500 para outro. Isso são questões estruturais. Seria hipocrisia hoje a gente dizer que uma campanha política não é feita de dinheiro. Eu tenho minha prestação de contas, no TRE é público, já gastamos mais de R$ 80 mil nessa campanha (para deputado estadual). Fico muito tranquila nisso, temos carro para alugar, caixa de som construídas.

A senhora falou que tem 14 cargos comissionados, mas 30 pessoas trabalhando para senhora. Então essas 16 pessoas são pagas como?

Agora a gente vai explicar a parte em que expliquei a eles (na reunião gravada no YouTube) na pressão. Foi feita uma reunião entre amigos onde voluntariamente cada um se ajuda mutuamente. Para encaixar um advogado fiz uma reunião, disse que cada um dê um pedaço para pagar e a gente não tinha de onde tirar e eu não iria mais atrás de espaço mais em canto nenhum.

Os R$ 10 mil que a senhora tem em cargos na Mesa Diretora, implicam em quantas pessoas?

Dá uma média de 3 cargos.

Mas na gravação a senhora dá a entender que as pessoas lotadas no gabinete não embolsam integralmente o salário?
Onde está corrupção nisso aí? Nunca ouvi dizer que propina você recolhesse imposto de renda. Existe um acordo. Quem está com um cargo de R$ 4 mil, ele retira o desconto de imposto de renda e, voluntariamente, pelo acordo que foi feito de grupo, ele tem que ajudar um companheiro ou outro. Ele (o assessor em cargo comissionado) faz isso naturalmente.

Esse percentual (que o cargo comissionado retira do salário para passar para outro) é pré-estabelecido?

Não. São ajudas e contribuições para poder amparar, são pessoas que trabalham. Não existem funcionários fantasmas. Não existe isso de ficar com cartão de ninguém e receber o dinheiro sem que a pessoa nem tenha conhecimento.

As 14 pessoas retiram dos vencimentos uma parte?

Retiram voluntariamente. Eles mesmos quem repassam, vão lá e dão a fulano, sicrano, beltrano. Eu não fico com dinheiro. Eu mesma já tirei várias vezes do meu salário.
E a compra do apartamento?

Estava ironizando porque você não compra apartamento com R$ 10 mil. Se existe hoje uma pessoa dentro desse Estado que está muito tranquila com relação a honestidade sou eu, vivo de aluguel.

A troca espaços por cargos é usado por outros políticos?

Isso é uma prática normal em todas as Casas legislativas. Se for punida por causa disso serão punidos os políticos do país. Agora trabalho da forma (de repasse de salário) porque não tinha como fazer diferente.

A senhora vendeu apoio para o senador José Agripino?

Nunca pedi um centavo para o senador José Agripino.

Mas a senhora afirma no vídeo “que só quer o dinheiro dele”?

Nunca pedi um centavo, ele sabe disso. Agora quando eu cheguei na reunião (gravada), cabo Jeoas me procurou. Ele perguntou se eu teria vendido o apoio. Eu disse que não existiria acordo com José Agripino de dinheiro. Ele (o senador) ajudou a gente na PEC 300 e na anistia.


A senhora vendeu os 5.498 votos? No vídeo a senhora fala que essa é a “linguagem” da política…

Eu estava explicando que a categoria conseguiu um mandato com 5.498 votos, mostrou força e a categoria deveria levar sim esses 5.498 votos a um candidato que lhe ajudasse estruturalmente. Não é propina. Não negocio dinheiro para mim, para A, B ou C. Se eu tenho um apoio de um deputado, ele me ajuda estruturalmente, são doações dentro da minha conta.
Então é uma comercialização da estrutura é de 5.498 votos?

Não é comercialização. É estruturalmente para a campanha. Eu  não levei ao senador José Agripino, Garibaldi Filho. A gente evita isso. Eu tenho vários pontos de trabalho pelo interior, tenho que mandar combustível, tenho que dar alimentação, tenho que dar logística, material de campanha que tem que ser feito. Um santinho é R$0,10 você tem custo e alguém tem que lhe ajudar.

Então 5.498 votos é a forma que a senhora usa para conseguir esse apoio?

É a forma. A gente chega e diz nós temos uma categoria que me elegeu com 5.498 votos, votos de confiança que foram dados, se você me ajudar eu vou pedir também para você. Esse é um processo natural.

É uma troca de voto?

Não é troca. É um acordo. Se você me ajudar eu lhe ajudo.

A senhora reitera o que falou sobre Raniere Barbosa (onde ela diz que o vereador é riquíssimo e roubou da Prefeitura de Natal)?
O que quis fazer foi uma defesa, terminei fazendo um ataque. Todo mundo na reunião estava esculhambando, eu disse que era preciso dar um basta. Tem uma hora lá, dentro do contexto todo que estou falando. Digo (no vídeo) que Raniere deve ter roubado o que queira e não queria, foi secretário, é um homem riquíssimo… Acho que ele é um homem riquíssimo, mas eu particularmente acho que ele não tenha roubado.

A senhora vendeu seu voto para Dickson Naser, quando foi candidato a presidente?

Eu disse na tribuna da Câmara, no dia que eu fui declarar meu voto para Dickson… Disse que não aceitei dinheiro de Dickson, não recebi R$1, o que aceitei foram espaços, cargos para abrigar o meu povo, a negociação para segurança na Câmara Municipal e falei sobre a Comissão de Direito Humanos, que tinha negociado a presidência da Comissão.
A senhora cogita desistir do pleito de deputada estadual?
Em hipótese alguma. Não matei, não roubei, não posso jamais ser colocada como exemplo de combate a corrupção no Estado, isso se torna imoral e ridículo. O que há são pessoas oportunistas. Tentaram me barrar com a impugnação, não conseguiram e até retornei para corporação (PM). A gente está bem. Lembro que a ACS hoje está a serviço do sistema de governo.

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