segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tiibuna do Norte: Crack: consumo no RN cresce 30%

Tiibuna do Norte: Publicação: 18 de Abril de 2010 às 00:00
A despeito das promessas oficiais de priorizarem  o combate ao tráfico no RN, o fato é que o próprio Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen), órgão vinculado à Secretaria de Segurança e Defesa Social, tem hoje menos servidores que antigamente e nenhum estagiário, ao contrário de antes. E entre os oito servidores atuais, dois estão de licença-prêmio.

Emanuel AmaralDados do 
Fórum Estadual Permanente de Políticas Públicas sobre Drogas, revelam 
que  90% dos adolescentes envolvidos com uso de drogas tinham ligação 
com o tráficoDados do Fórum Estadual Permanente de Políticas Públicas sobre Drogas, revelam que 90% dos adolescentes envolvidos com uso de drogas tinham ligação com o tráfico



















Esta semana, porém, uma conversa entre o presidente interino do Conen, Vantuil José Carvalho de Oliveira, com a chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social recolocou o problema nos seguintes termos: há interesse do Governo do Estado em prover ao Conen condições reais de realizar o seu trabalho dentro das instâncias a que se propõe, fornecendo mais pessoal e estrutura de trabalho.

Outro problema é que falta ao Conen orçamento próprio – o dinheiro repassado mensalmente é o que a Secretaria manda.  Com isso, apesar de toda a boa vontade, fica difícil empreender qualquer ação mais substancial, exceto apagar incêndios produzidos a partir da realidade nua e crua do avanço das drogas. Com isso, o consumo de droga avança. Só o consumo de crack aumentou 30% ao ano no Rio Grande do Norte.

Comunidades

Situação idêntica de falta de recursos e estrutura vivem as comunidades terapêuticas da região metropolitana de Natal, muitas delas engajadas a movimentos religiosos, que desenvolvem programas de desintoxicação e ressocialização dos dependentes de álcool e drogas.  De maneira muitas vezes improvisada, sem apoio profissional adequado, esses centros vivem de doações, inclusive de pessoas recuperadas, para cobrir uma despesa mensal que não  ultrapassa a R$ 200,00.

É o caso da Carena – Casa de Recuperação Novo Amanhecer -, que mantem três unidades na Grande Natal. Na Lagoa do Bonfim, onde  está uma delas, 20 pessoas atualmente estão internadas – 70% delas para se tratar da dependência do crack, segundo o pastor Lúcio Moreno da Costa, o responsável. Os restantes 30% dos beliches que estão distribuídos em três quartos são ocupados por dependentes de álcool.

Subsídio que é bom, nenhum tostão. “Nos mantemos exclusivamente com doações e com o que conseguimos apanhar de frutas e legumes no Ceasa todos os sábados”, diz o pastor Lúcio.   Acessar recursos oficiais que, sabe-se, existem, encontra uma barreira intransponível na quantidade de documentos exigidos e na burocracia dos cartórios

A mesmíssima situação é vivida pela Comunidade Nova Aliança, de Pium, onde, neste momento, dos 60 internados, apenas 10 são dependentes de álcool – as outras 50 foram parar lá por conta do crack.

A Aliança, para onde a Prefeitura de Parnamirim manda muitos jovens todos os meses, tem a sorte de contar com o trabalho voluntário de um psiquiatra que há 27 anos lida com dependentes de álcool e drogas, o professor aposentado da UFRN, Stenio Barros.

Mas nem todos os voluntários do mundo teriam condições de atender à demanda crescente das vítimas do crack. O pastor Lúcio, da Carena, diz que as casas de desintoxicação recebem auxílios voluntários de profissionais, mas elas vêm e vão. “A ajuda é mais solidária de pessoas da igreja que aparecem para dar palestras”, diz.

Para o psicanalista Stenio Barros, a falta de recursos oficiais é um problema para o qual as autoridades deveriam abrir os olhos.

“Apenas  a repressão está muito longe de resolver o problema”, ele observa. E acrescenta: “Sem educação e um ambiente familiar bom não há como impedir que o dependente volte a consumir”, resume. Um dos casos de iniciativa que conseguiu superar as barreiras da burocracia deve se materializar no mês que vem, na Zona Norte, com a abertura de uma casa especializada na recuperação de mulheres dependentes de drogas – um trabalho extremamente especializado.

A idealizadora, Josefa Maria de Moura, conhecida como Fifita, diz que precisou de muita paciência para concluir a documentação e acessar financiamentos oficiais de tratamento de dependentes de drogas. Foi um ano perambulando por secretarias e cartórios, tendo que refazer documentos por causa de pequenas palavras, questiúnculas jurídicas. “Mas, enfim, na semana que vem deve estar tudo pronto”, diz, aliviada.

Na terapia de grupo quem diz que usa  maconha é vaiado

O psicanalista Stenio Barros diz que nas terapias de grupo com dependentes de álcool e drogas quem confessa o uso de maconha é vaiado pelos demais. Como se fosse algo insignificante, sem importância. Embora reconheça os males que a maconha traz ao organismo, em nenhum grau ele se compara ao poder devastador do crack. Nem pode ser avaliado dentro da mesma perspectiva.

Os efeito do crack assemelham-se a uma granada de alto poder de destruidor – seus estilhaços não atingem só o dependente, mas toda a família, os amigos e a sociedade como um todo, já que o dependente faz qualquer coisa para conseguir mais.

Nos primórdios da entrada da droga do mercado, segundo a literatura a respeito, até os próprios traficantes hesitaram vender. Isso, porque a droga carregava consigo o poder de viciar quase que instantaneamente e acabar com a vida do viciado em pouco tempo, através dos seus efeitos diretos no organismo e da degradação que traz. Ou seja, matava o cliente. Essa lógica sucumbiu à ganância e à violência.

Stenio Barros diz, ainda, que as mulheres estão aderindo como nunca ao crack, o que representa um problema muito grande, pois elas demandam um tratamento mais especializado do que os homens.

Em Caruaru (PE), a Fazenda Esperança é o centro mais procurado no Nordeste para a recuperação de mulheres dependentes. O problema é que só aceita uma pessoa nova por mês. E custa caro – dois salários mínimos na hora da internação e mais um salário-mínimo por mês.

Diante disso, restam às mulheres potiguares o sofrimento com a falta de atendimento especializado. Todos os dias,  jovens na adolescência, com histórico de problemas familiares, caem no vício e acabam se prostituindo para obter mais pedras.

65% das presas se envolveram com as drogas

Enquanto isso, as consequências   aparecem todos os dias: são corpos de viciados em drogas crivados de balas e abandonadas em matagais. É o saldo de acertos de contas entre traficantes, envolvendo, na sua maioria, quem já tem ficha na Polícia. “E morre-se por qualquer quantia”, diz o delegado titular da Denarc – Departamento de Investigações sobre Narcóticos -, Odilon Teodósio.

Para ele, o problema do crack é o mesmo em todas as unidades da Federação. “Trata-se de uma questão pulverizada cuja solução não está só no combate, mas na prevenção e no tratamento”, resume.Em 2009, por falta de estrutura e pessoal, o Dernac não tabulou os dados sobre apreensão de crack e prisão de traficantes. “Estamos fazendo isso este ano”, garante.

Sem esses dados mês a mês perde-se uma memória imediata de informações úteis, contendo datas, quantidades apreendidas da droga, traficantes envolvidos e outras informações revelantes a uma investigação criminal.
Segundo o delegado titular do Denarc, mesmo sem informações relatoriais, é possível estimar o crescimento do consumo do crack no Rio Grande do Norte em 30% ao ano. O que não dá um número exato, mas sugere a escala “exponencial”  do uso da droga, para usar a expressão do próprio Teodósio.

Até o ano passado, uma pedra de crack custava R$ 5,00. E dados do Fórum Estadual Permanente de Políticas Públicas sobre Drogas, no RN, 90% dos adolescentes envolvidos tinham ligação com o tráfico. Mais: 65% das mulheres do sistema prisional estavam detidas por algum crime envolvendo entorpecentes e 85% dos homens cumprem pena por envolvimento com o tráfico.

 Para o delegado Odilon Teodósio, do Denarc, é nítida a tendência dos traficantes de cocaína em voltar-se cada vez mais para o crack. “É mais fácil de produzir e vender”, resume.

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/crack-consumo-no-rn-cresce-30/145977

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