quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cadeia sob o comando de presos

Ação da Polícia Civil e MP descobre que detentos tomavam conta da porta principal, tinham controle das chaves e faziam revistas na carceragem da Polinter de Queimados, onde 170 cumprem pena. Chefe da unidade e inspetor foram detidos


Rio - As chaves da carceragem da Polinter de Queimados, na Baixada Fluminense, estavam nas mãos de homicidas e acusados de estupro. As equipes do Grupo de Atuação Especial ao Combate do Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e agentes das Corregedorias Geral Unificada (CGU) e da Polícia Civil foram recebidos por um preso no portão principal. A ‘administração’ da cadeia, com 170 internos provisórios à disposição da Justiça, era feita por Jefferson Ferreira Mafra, detento acusado de homicídio e tratado como se fosse policial.
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Um dos detentos recebia e fazia a revista dos visitantes dos presos. Outros dois controlavam as algemas e faziam a contabilidade do grupo | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
A polícia apreendeu revólver 38 com a numeração raspada e munição, R$ 300, 21 dólares (R$ 36,75), 20 telefones celulares, chips e a contabilidade da propina cobrada pela quadrilha por regalias no xadrez.

Na sala de Mafra, havia um circuito interno de TV para monitorar os outros internos. Para ‘organizar’ a carceragem, que funciona ao lado da 55ª DP (Queimados), Mafra contava com o trabalho de outros três presos. Alex Charret seria o responsável por controlar as algemas; Robson da Silva faria a revista dos visitantes dos internos, enquanto Eber Alves dos Santos seria o ‘contador’.


Para desmantelar o esquema de propina na carceragem, o Ministério Público, que investigava o tráfico de drogas em Paracambi, interceptou conversas telefônicas, autorizadas pela Justiça, nas quais parentes de presos negociavam até R$ 3 mil pela permanência e mordomias na carceragem. Durante a ação dos agentes, foi descoberto que das sete celas, quatro eram ‘vips’, com ventiladores, TV, DVD e colchões. Para ter direito, pelo menos 20 presos pagavam R$ 100 por semana. Se quisessem usar celular, a taxa era de R$ 10, segundo a polícia. “Havia presos do lado de fora fazendo atendimento aos familiares”, repudiou o promotor Jorge Magno Vidal, do Gaeco.
Foto: Divulgação
Anotações seriam de pagamentos | Foto: Divulgação
Ontem, o chefe da carceragem, identificado como Paulo Renato, e o policial de plantão, conhecido como Da Silva, foram presos. Sete envolvidos foram levados à CGU para serem ouvidos. O delegado Orlando Zaccone, coordenador das carceragens, alegou que o esquema desarticulado em Queimados é reflexo da falta de estrutura. “Os fatos são graves, mas não há novidade. É repetição de fatos antigos nas carceragens do Rio, pela falta de estrutura. Será investigado”, afirmou Zaccone. Para o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o trabalho é uma resposta: “Punir e colocar na rua não é problema. As corregedorias têm que mostrar a capacidade de reagir, como ocorreu hoje (ontem)”.

Suspeita de ligação com milicianos


Os agentes vão investigar a suspeita de que o detento Jefferson Ferreira Mafra teria envolvimento com integrantes de milícia que atua em São Gonçalo. Também querem saber se ele tinha regalias para passear em pontos turísticos do Rio, já que foram encontrados em sua cela dois bilhetes do Corcovado com data do dia 17 de janeiro.


Com as propinas cobradas na cadeia, Mafra teria ainda comprado casa para a família, como constatado nas investigações através de gravações telefônicas, autorizadas pela Justiça. Nas conversas foi identificado ainda que ele costumava dormir em casa.


Os agentes apreenderam bilhete de perito de Teresópolis que pede a Mafra — acostumado a ser tratado como policial — um favor: atender uma servidora. Em outro trecho, o perito agradece: ‘Estou ao seu dispor no IML de Teresópolis’.
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Chefe da carceragem, identificado como Paulo Renato, foi detido | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Ex-detento ainda colaborava

O esquema de corrupção montado na carceragem era considerado tão lucrativo que, segundo a polícia, até depois de ganhar liberdade, o ex-detento Adilson Lima dos Santos ainda frequentava a unidade.


Ontem, o revólver calibre 38 com a numeração raspada e munição também para calibre 40 estavam em uma bolsa com os documentos pessoais de Adilson, mas ele escapou da operação da polícia e do Ministério Público.


“Temos informações de que a arma pertencia a Adilson, que continuava trabalhando como colaborador na carceragem”, afirmou o delegado Jaime Filho, da Corregedoria Geral Unificada (CGU).
Reportagem de Adriana Cruz e Geraldo Perelo

http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/8/cadeia_sob_o_comando_de_presos_101051.html

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