sexta-feira, 8 de outubro de 2010

POLÍCIA - Diretor de Tropa de Elite aprova UPPs e defende reforma nas polícias




CINEMA E SEGURANÇA. Padilha aprova UPPs mas defende reforma nas polícias - O Globo, Repórter de Crime, Jorge Antonio Barros. 08/10/2010.

O cineasta José Padilha, diretor de Tropa de Elite 2 que chega hoje às telas de 636 cinemas do país, afirmou que é favorável ao projeto das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), implantado pelo governo Cabral desde 2008, "mas a UPP é a metade de um projeto porque tem que ser feita uma grande reforma nas polícias".

- Acho um projeto ótimo porque desarma o tráfico de drogas nas favelas, o que é uma grande coisa. Mas a polícia continua a mesma. Quem me garante que daqui a dez anos ela não será a dona da favela - afirmou Padilha que desde "Tropa de Elite" tem recebido informações sobre segurança e criminalidade de especialistas como Rodrigo Pimentel - que inspirou o capitão Nascimento - e Luiz Eduardo Soares, que foi coordenador de segurança no Governo Garotinho e secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, no primeiro Governo Lula.

"Tropa de Elite 2" - que aborda as relações entre crime, polícia e política - entra em cartaz hoje, justamente no meio de uma nova crise na segurança, que são os arrastões que vêm dando trabalho à polícia e ao governo do estado.

Na coletiva dada na quarta-feira, no dia seguinte à primeira exibição pública do filme no Theatro Municipal de Paulínia - a 118 quilômetros da capital paulista, Padilha questionou por que, se tem sido tão fácil ocupar as comunidades antes dominadas pelo tráfico, isso não foi feito antes.

- Porque não é um projeto da polícia, mas de um governo - ressaltou o cineasta para quem o tráfico de drogas no Rio é violento por outras razões e não apenas porque a atividade é ilegal.

Na verdade, o projeto de pacificação em favelas já teve outras experiências, mas nenhuma delas se transformou numa política de segurança pública e muito menos em estratégia para combate ao tráfico.

Perguntado por mim, talvez o único jornalista não especializado em cinema ou showbiz, na coletiva, sobre o que dirá a quem lhe perguntar se Tropa de Elite 2 não interferiria no resultado das eleições para governo do Estado do Rio, Padilha disse:

- Não fiz o filme para fazer diferença no primeiro ou no segundo turno. Tudo o que o filme fala vai continuar sendo verdade. A ingerência política do cinema não sei se existe também na saúde, educação e nos problemas como um todo - afirmou Padilha, alegando que não teve tempo de finalizar o filme para lançá-lo em 3 de setembro, uma das datas previstas.

Embora esteja claro que o governador do filme não é Cabral, Rosinha ou Garotinho, não tenho dúvidas de que os resultados das eleições no Rio seriam outros se Tropa de Elite 2 tivesse sido lançado duas semanas antes de irmos às urnas. A virulência do tema iria comprometer o "sistema".

Sobre a polícia do coronel Nascimento, Padilha diz que "a PM está fadada ao fracasso porque está corrompida por dentro". "A banda corrupta da polícia é sócia do tráfico", diz Padilha. A opinião dele está na declaração feita pelo tenente-coronel Nascimento em depoimento na CPI das Milícias, no plenário da Assembléia Legislativa do estado:

Sobre o controle contra a pirataria - que foi um dos problemas enfrentados pelo filme Tropa de Elite - Padilha disse que dessa vez isso será praticamente impossível porque foram tomadas medidas de segurança como colocar no cofre de um banco a master digital, sem som. Ele lembra que para piratear Tropa de Elite 2 será preciso invadir um laboratório de cinema, levar sete rolos e adquirir um equipamento de telecinagem no valor de R$ 2 milhões. Além disso, os rolos foram numerados para se controlar alguma tentativa de pirataria por funcionários dos cinemas.

- Pirataria não é democratização da cultura. A gente não gosta de pirataria - enfatiza Padilha, que ficou indignado com as insinuações maldosas de que a própria produção teria permitido o vazamento de algumas cópias para divulgar ainda mais o filme.

Dessa vez o esquema foi tão rigoroso que na primeira exibição pública do filme os 1 mil 200 convidados foram obrigados a deixar câmeras fotográficas e celulares em envelopes na portaria. Sofri de síndrome de abstinência por não ter podido twitar durante quase duas horas. Mas também seria muito difícil fazê-lo durante algumas cenas do filme, de tirar o fôlego.

Na entrevista no programa do Jô ontem à noite, Padilha confirmou que a equipe de filmagem já sofreu assédio de policiais nas ruas, querendo propina para prestar algum serviço de proteção. O cineasta garante que não cederam por orientação dos especialistas em segurança que o acompanha.

Cinco pontos são inverossímeis em "Tropa de Elite 2", um filme baseado em fatos reais:

1) Nenhum miliciano ficaria tão à vontade dando tiros para o alto num pagode numa favela, na presença do governador do estado, qualquer que fosse ele;

2) O secretário de Segurança no filme - eleito deputado federal com votos em áreas dominadas por milícias - é um ex-comandante-geral da PM e substituído por outro comandante, o que seria impossível no mundo real por causa da rivalidade histórica entre policiais civis e militares. Se um delegado da Polícia Civil ou oficial da ativa da PM for nomeado secretário de Segurança provoca uma fissura ainda maior nas duas corporações;

3) A rebelião em Bangu 1, inspirada no fato ocorrido em 2002, resultou numa chacina feita pelos próprios presos e não por policiais do Bope;

4) Não existe a Polícia Penal, que aparece no presídio;

5) E, por último, o coronel Nascimento vira herói hollywoodiano porque consegue escapar de uma emboscada que na vida real seria fatal. Na realidade só conheço um policial que conseguiu escapar de uma emboscada semelhante - o delegado Alexandre Neto.

Mas isso é cinema. O próprio filme é apresentado como uma obra de ficção, apesar de todas "as coincidências". Para não comprometer a imagem da PM, a sigla da corporação no filme é MPERJ, que poderia ser também uma crítica ao Ministério Público estadual, que em geral mal enxerga as atividades criminosas da banda podre. Outro cuidado foi usar uma insígnia do Bope em que o crânio tem o punhal invertido, de baixo para cima. A verdadeira é essa aqui.

Tropa de Elite 2 tenta de alguma forma se blindar de processos e reações contrárias ao filme por parte de quem considerar ter a imagem prejudicada. Mas se preocupou em dar veracidade aos fatos que foram transformados. Certamente por isso Padilha escolheu sets de filmagens que não são como Hollywood. Pertencem ao mundo real. Com exceção do Congresso nacional — que não permitiu filmagens — e de Bangu 1, que foi recriado, a história se passa em favelas reais como o Morro Santa Marta, em dependências da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, nos corredores do quartel-general da PM e até mesmo na delegacia de polícia que de fato foi invadida por milicianos, em Seropédica. Os efeitos especiais estão fantásticos, mas usam blindado e helicóptero de verdade, alugados pela Secretaria de Segurança por um total de R$ 17 mil. Não é computador.

Outro dado da realidade é que o filme não apenas promove a patente de Nascimento — que passou de capitão a tentene-coronel e comandante do Bope — como eleva o patamar do debate sobre segurança pública e criminalidade no Rio, o maior mérito da película de Padilha, que parece estar sabendo sobre segurança mais do que muito policial (ver post abaixo). Aprimorando sua vocação de cinema puro, de entretenimento, aborda numa trama complexa o submundo que une crime, polícia e política no Rio. "O inimigo agora é outro". São as milícias, grupos formados por policiais e ex-policiais civis e bombeiros, que foram tirados da clandestinidade por reportagem do GLOBO em 2005, Vera Araújo, na manchete que lançou a expressão milícia, criada por mim.

Nascimento deixa de lado os bandidos pés de chinelo para enfrentar agora os criminosos de colarinho branco infiltrados no "sistema", por meio do voto.

As histórias reais foram misturadas assim como seus personagens embaralhados para que 
ninguém tenha certeza de quase nada. No do secretário de Segurança eleito deputado federal só existem dois na história do Rio - o delegado da Polícia Federal Marcelo Itagiba e o coronel Josias, da reserva da PM. O deputado Fortunado, líder das milícias, é inspirado claramente em Natalino Guimarães, que chefiava a milícia Liga da Justiça, dizimada na gestão do secretário de Segurança atual, José Mariano Beltrame, na Zona Oeste da cidade. Como é apresentador do programa sensacionalista Mira Geral pode ser confundido com o deputado Wagner Montes, mas esse não teve qualquer envolvimento com o crime e apoiou a CPI das Milícias.

O hiperrealismo fica por conta de cenas de execuções cruéis de tirar o fôlego. A interpretação da jornalista Clara, feita por Tainá Muller, é também uma das melhores do cinema brasileiro, que em geral apresenta de forma muito tosca e caricaturizada os profissionais de imprensa. A repórter e o fotógrafo foram inspirados nos profissionais do jornal O Dia, que foram sequestrados e barbaramente torturados na favela do Batam, no episódio que acabou acendendo o estopim que permitiu a instalação da CPI das Milícias.

— O filme pode ser uma ficção para a maioria das pessoas; mas pra nós, que vivemos isso de perto é um documentário — disparou o delegado Vinicius George, que fez uma ponta no filme e se dizia bastante tenso com que acabara de ver na tela do Theatro Municipal de Paulínia, onde houve a primeira exibição pública, terça-feira.

Vinicius é assessor do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), o único oficialmente reconhecido como inspirador de um personagem — o deputado Diogo Fraga, militante de direitos humanos, que preside a CPI das Milícias, que no mundo real indiciou 226 pessoas.

Há outros personagens fáceis de se reconhecer na vida real, mas Padilha não diz nomes:— Embora alguns políticos insistam em se reconhecer no filme, isso é um problema deles.

A violência que eles promovem para, por exemplo, colher votos é problema nosso.

http://blogdainseguranca.blogspot.com/2010/10/policia-diretor-de-tropa-de-elite.html

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