domingo, 18 de abril de 2010

Dicasdeportuguês


Chique que só
Adimar Jesus da Silva, o maníaco de Luziânia, estava preso. A Justiça o soltou. Em liberdade condicional, fez e aconteceu. Tirou a vida de seis rapazes. A decisão do juiz mereceu críticas a torto e a direito. O presidente do Supremo Tribunal Federal também se pronunciou. "É desvio como sói acontecer em casos graves", disse Gilmar Mendes. Ops! Sói acontecer? Que diabo é isso?

Trata-se do verbo soer. O sofisticado quer dizer ser comum, costumar, ter por hábito. Como conjugá-lo? Ele joga no time dos preguiçosos. Defectivo, não tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo. E, claro, não há filho sem mãe. O presente do subjuntivo, derivado da pessoa ausente, não existe. No mais, flexiona-se igualzinho a moer: tu móis (sóis), ele mói (sói), nós moemos (soemos), vós moeis (soeis), eles moem (soem); eu moí (soí), ele moeu (soeu), nós moemos (soemos), eles moeram (soeram). Etc. e tal.

Vamos combinar? Sua Excelência usou um verbo pra lá de chique. Se quisesse ser mais simples, bastava dizer: É desvio que só costuma acontecer em casos graves.

Eis a questão
Adimar é pedófilo ou pederasta? A dúvida assaltou os jornalistas que cobrem a tragédia de Luziânia. Com razão. As duas palavras pertencem à mesma família. Pedagogia e pediatra também são membros do clã. Os quatro têm um elemento comum. É ped. Do grego paidos, ped- quer dizer criança. Pedagogo é o condutor de crianças. Pedófilo, o amante de crianças (antes, não tinha o sentido negativo que tem hoje). Pederasta, o louco por contato sexual entre um homem e um rapaz bem jovem. Pediatra, o médico que trata de crianças.

Moral da história: no início da trajetória criminosa, Adimar abusou de crianças de 7-8 anos. Foi condenado por pedofilia. Solto, atacou rapazinhos de 16-17 anos. Agiu como pederasta.

Com ou sem?
Ele matou os jovens a pauladas. Ocorre crase? Ou não? Crase é o casamento de dois aa. Um é a preposição. O outro, em geral, o artigo. Pauladas é substantivo plural. Se estivesse acompanhado, o artigo seria as. A contração, às. Em "a pauladas", o plural não tem vez. Conclusão: sem artigo, nadade união. Xô, acentinho!

Lé com lé, cré com cré
É lei. Depois de idas e vindas, vingou a decisão da Anvisa. Farmácia não é supermercado. Não pode, por isso, expor remédios em prateleiras e gôndolas. A razão: evitar a automedicação. Além de protestos, a determinação trouxe dor de cabeça. A reforma ortográfica alterou as regras do hífen no prefixo auto? Alterou. A dissílaba está submetida à norma geral. Pede o tracinho em duas oportunidades. Uma: quando seguida de h. A outra: quando duas letras iguais se encontram. No caso, o o (auto-higiene, auto-observação). No mais, é tudo colado: automedicação, autodidata, autoaprendizagem.

Loucura à solta
O mundo enlouqueceu. Terremotos no Haiti, no Chile, no México, nos Estados Unidos e, agora, na China. Geólogos veem a tragédia com naturalidade. "O atrito das placas tectônicas provoca abalos sísmicos", explicam eles. A saída? Construções antissísmicas. Assim, com ss pra manter a pronúncia de sísmico. Sem a duplinha (antisísmico), o s soaria z como em casa, mesa, camisa. Nada feito.

Leitor escreve
Celito M. Brugnara, de Porto Alegre, escreve: "Tempos atrás, já havia me comunicado com a senhora a respeito da coluna `Pérola legislativa´, publicada no jornal O Sul e também em outros jornais e no Blog da Dad. Na oportunidade, informei que solicitara à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul a alteração da Lei n° 11.369, de14.9.99, que obriga seja afixado aviso perto de todos os elevadores. Trata-se deste texto cheio de erros: `Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar´. Deu certo. Dias atrás, o diário oficial do estado publicou nova lei, alterando aquela. Ei-la:

Art.1°- O art. 1° da Lei n° 11.369, de 14 setembro de 1999, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1° - Os prédios públicos e privados dotados de elevador são obrigados a manter afixadas, em suas portas externas, placas de advertência aos usuários desses equipamentos com a seguinte mensagem: ATENÇÃO: ANTES DE ENTRAR, VERIFIQUE SE O ELEVADOR ESTÁ PARADO NESTE ANDAR.

Art. 2° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 5 de abril de 2010.

Recado
"Gritar é ruim para a voz, mas é bom para a alma."

Conor Oberst

Ufa! Viva! Vale brigar. Agora é divulgar e reclamar legalmente. 


Fonte: Diário de Natal

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