A morte do cordeiro marca o início de uma nova vida
Os israelitas permaneceram no Egito durante 430 anos (Ex 12.40). Na maior parte desse tempo o povo viveu na escravidão. Além de todo o sofrimento que lhes era imposto, os últimos dias tinham sido muito conturbados pela ocorrência das pragas que Deus realizara. E mais uma estava por vir: a morte dos primogênitos. Esta seria a pior de todas as calamidades recentes. O relato do Êxodo nos mostra um cenário “apocalíptico”, com pragas, sofrimento, juízo, morte, enquanto o povo de Deus seria retirado e conduzido à sua pátria.
Em meio a tudo isso, Moisés ordenou que cada família tomasse para si um cordeiro e o sacrificasse. O sangue do animal deveria ser aspergido sobre os umbrais das portas. Dentro de casa, os familiares deveriam comer a carne, com pães asmos e ervas amargas. Esta seria a “páscoa do Senhor” (Êx 12.11).
Naquela noite, um anjo mataria todos os primogênitos egípcios. Ele poderia matar também os israelitas, mas não entraria nas casas onde houvesse o sinal do sangue indicando que, ali, a morte já havia sido executada. O cordeiro teria morrido no lugar do primogênito. Este foi o plano de salvação elaborado por Deus. O castigo deveria ser executado, mesmo que fosse sobre um substituto.
O povo não questionou a ordem nem pediu explicações. Deveria apenas obedecer, pois disso dependiam muitas vidas.
A celebração teria ritmo de urgência. Chegou o dia decisivo. Foi estabelecido o toque de recolher para Israel. Todos em casa! Nenhum compromisso justificaria a ausência de qualquer membro da família. Não haveria outra forma de se livrarem da ameaça de morte. Era o cordeiro ou nada mais. Aquela seria também a única chance de livramento da escravidão. Ninguém poderia adiar o sacrifício ou a refeição que o seguia.
Aqueles animais, puros e inocentes, simbolizavam o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29).
Cristo, o primogênito do Pai (Rm 8.29) foi levado como cordeiro mudo ao matadouro (At 8.32). Mesmo sem merecer, morreu na cruz para que nós, merecedores da morte, pudéssemos viver eternamente. Não foi por coincidência que Jesus morreu durante a páscoa (Mt 26.2), no horário da tarde (Ex 12.5; Mt 27.46) e, à semelhança dos cordeiros pascais, nenhum de seus ossos foi quebrado (Ex 12.46; João 19.36).
Não existe outro meio de salvação para as nossas almas (At 4.12). Não podemos perder a definitiva manifestação da graça divina na pessoa de Jesus Cristo.
O sangue de Jesus é o sinal que nos diferencia daqueles que estão perdidos. Não somos melhores do que eles, mas temos a marca do compromisso com aquele que garante a nossa redenção. Aleluia! Pelo sangue fomos comprados, purificados e protegidos.
“Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado” (1Co 5.7).
Enquanto a carne era comida no interior da casa, o sangue era visível do lado de fora, como testemunho público diante dos homens e dos anjos. Nossa aliança com Cristo não é secreta. A todos deve ser notória. Os que passarem saberão que o Cordeiro está conosco. Nós o recebemos em nossas casas e em nossos corações. Temos nos alimentado da sua carne (João 6.53; Mt 26.26) e o que somos tem sido transformado pela sua presença em nós.
Naquela noite, egípcios e israelitas tiveram experiências com Deus. Para uns, juízo, para outros salvação. O mesmo Deus que condenou os primogênitos da nação ímpia preservou os filhos de Israel. Para os condenados pode ter ficado uma imagem negativa de Deus. Para os salvos ficou a certeza de que Deus é bom e gracioso.
É o que acontece ainda hoje: as pessoas vão desenvolvendo ideias positivas ou negativas sobre Deus, embora ele seja um só. A diferença ocorre pela posição que cada pessoa toma diante do Senhor. Quem rejeita o Cordeiro enfrentará o anjo da morte. Os egípcios fizeram sua escolha quando, mesmo diante das pragas, permaneceram na idolatria.
A páscoa judaica era uma festa familiar, momento de comunhão. Em cada casa, um cordeiro precisava ser morto.
Era uma honra e uma responsabilidade de cada lar, sendo concedida a permissão para que os vizinhos se unissem na mesma casa. Assim também, é necessário que cada família seja alcançada pela obra redentora de Jesus Cristo.
Contudo, a decisão é individual. No caso dos israelitas, cada pessoa precisava permanecer dentro da residência durante a celebração (Ex 12.22). Aquele que saísse encontraria o anjo da morte.
Fato curioso é que, durante a páscoa celebrada por Jesus com seus discípulos, Judas Iscariotes retirou-se do recinto (João 13.30) e morreu algumas horas depois. O grande problema não seria sair de casa, mas rejeitar o cordeiro.
Judas rejeitou.
Enquanto os egípcios choravam a perda de seus filhos, os israelitas realizavam a refeição pascal, ao fim da qual foi ordenado que saíssem do Egito. Era chegada a hora da libertação.
A morte do cordeiro lhes garantiria uma nova vida. Era o fim da escravidão. Chegou o dia de dar adeus ao Egito.
Isto também significava renúncia, pois nem tudo era ruim naquele lugar (Nm 11.5).
Os filhos de Israel não poderiam ficar nem mais um dia ali. Não seria aceitável que algum deles dissesse: “Podem ir andando, que eu vou depois. Visitarei as pirâmides e despedirei de alguns amigos.”
Os israelitas não poderiam ser turistas onde foram escravos. Quem servia a Faraó e foi liberto não pode ter nenhum tipo de relação com ele. Se o israelita não lhe parecer útil, será morto pelo inimigo.
Aqueles que se entregam a Cristo e o recebem como Salvador são libertos do reino das trevas e precisam renunciar aos seus prazeres ilícitos. Quem é livre não pode permanecer no território do inimigo.
“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6 1-2).
Os israelitas saíram do Egito e foram ao deserto, rumo à terra prometida. A viagem não seria fácil. Nós também, que caminhamos para a Jerusalém celestial, não temos uma jornada suave pela frente. Contudo, estamos vivendo uma nova vida. Passamos por tribulações e lutas, mas estamos prosseguindo. A morte do Cordeiro é a nossa garantia de vida. Seu sangue foi o preço pago pela nossa redenção. Não somos mais escravos de Satanás. Somos servos de Deus e haveremos de viver para a sua glória.
::Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologiawww.anisiorenato.com
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